Existe uma Itália que cresce em silêncio, entre fileiras de videiras e decisões políticas que definem o futuro de regiões inteiras. É a Itália do Prosecco, a denominação que transformou o Veneto e o Friuli Venezia Giulia em vitrines internacionais do vinho mais exportado do país. Agora, essas mesmas regiões aprovam um movimento decisivo: 6.050 novos hectares para ampliar o potencial produtivo da DOC. Uma decisão que é muito mais do que agrícola: é estratégica. Porque por trás desses números emerge uma pergunta maior: até onde o Prosecco italiano quer chegar?
O pedido formal havia sido feito em setembro, em plena vindima. O Consorzio di Tutela Prosecco Doc alertou que a demanda global exigia um novo fôlego. As regiões disseram sim. O Veneto o fez com uma deliberação assinada pelo assessor Federico Caner, reconhecendo a necessidade de ampliar o potencial total para 30.500 hectares.
O plano é preciso: 5.940 hectares de Glera já existentes e 100 hectares por meio de editais para novos plantios. A expansão será feita em duas fases. A primeira, com 3.050 hectares, destina ao Veneto a parte mais expressiva. O restante seguirá no segundo ciclo. Ao final, a divisão será clara: 81% ao Veneto, 18,5% ao Friuli Venezia Giulia; e os 100 hectares de novos plantios divididos igualmente.
O questionamento surgiu naturalmente: por que aumentar o potencial se o mercado já não cresce de forma explosiva como antes? Basta observar os números: nos últimos cinco anos o consumo nunca caiu abaixo das marcas estratégicas e deve encerrar 2025 em torno de 660 milhões de garrafas. Para evitar excessos estruturais de oferta, o sistema adotou attingimenti anuais mecanismos flexíveis de ajuste que variaram entre 3.900 e 7.500 hectares. Um modelo que evita riscos e acompanha a demanda real.
Enquanto isso, o “Sistema Prosecco” impressiona: 3 bilhões de euros de valor, mais de 2 bilhões provenientes das exportações, crescimento de 200 para 660 milhões de garrafas em quinze anos, e um enoturismo vibrante nas Colinas do Prosecco, reconhecidas pela Unesco.
E é aqui que surge um protagonista que a Itália, muitas vezes, subestima: o Brasil. O país tornou-se um dos mercados mais dinâmicos para o Prosecco, impulsionado por um consumo urbano, cosmopolita e pela ascensão de uma classe média que busca símbolos acessíveis de sofisticação. Hoje, o Brasil cresce em dois dígitos e pode, em poucos anos, consolidar-se como uma das principais praças globais para o Prosecco italiano. A ampliação dos hectares, portanto, não é apenas uma resposta à demanda atual, mas uma preparação para o futuro um futuro que fala também português.
Como afirmou Coldiretti no congresso de Cimadolmo, há mercados “a conquistar” e consumidores “a educar”. O Prosecco tornou-se um sistema integrado, que une DOC, DOCG e Asolo em uma mesma narrativa internacional. E, nesse enredo, o Brasil deixa de ser um mercado periférico para tornar-se peça estratégica.
No final, resta uma pergunta: estamos diante de uma expansão agrícola ou de um novo capítulo da influência econômica italiana no mundo? O consumo brasileiro, cada vez mais maduro, já começa a sugerir a resposta.

