sex. ago 8th, 2025

O “milagre” da neve em Roma: A fascinante tradição da Basílica de Santa Maria Maggiore

Em pleno fervor do verão romano, enquanto o sol ainda domina o céu, Roma vive uma das suas celebrações mais poéticas e simbólicas: a reconstituição do lendário Milagre da Neve.

A origem do rito remonta ao ano 358 d.C.. A história, transmitida de geração em geração, conta que na noite de 4 para 5 de agosto, a Virgem Maria apareceu em sonhos ao então Papa Libério e a um rico patrício romano chamado João. A ambos, ela pediu que construíssem uma igreja em sua honra, e o local seria revelado por um sinal divino. O sinal chegou com o amanhecer: em pleno verão, o Monte Esquilino, onde a basílica hoje se ergue, estava coberto por um manto branco de neve. O milagre foi interpretado como a indicação celestial. O Papa Libério, tomando o cajado, traçou o perímetro do novo templo na neve, e João, em profunda devoção, financiou a construção. Assim nasceu a Basílica de Santa Maria Maggiore, dedicada à Nossa Senhora das Neves.

Todos os anos, em 5 de agosto, a tradição é revivida de forma solene e espetacular. No interior da basílica, um dos momentos mais aguardados ocorre durante a Missa: uma cascata de pétalas brancas é lançada do teto artesoado, simulando a lendária nevasca e simbolizando a pureza e a graça divina.

Fora da basílica, a celebração é ainda mais grandiosa. A Piazza di Santa Maria Maggiore se transforma em um teatro a céu aberto, onde o evento anual organizado pelo arquiteto Cesare Esposito ganha vida. A recriação do milagre conta com uma impressionante nevasca artificial, acompanhada de um espetáculo de luzes e música que busca recriar a atmosfera mágica daquele dia lendário.

A programação de 2025 é um exemplo da riqueza cultural do evento. A Banda dos Carabinieri abre a noite com hinos e peças clássicas, seguida de um espetáculo de luzes que “abrirá o céu antigo do Monte Esquilino”. A narração da história da Madonna della Neve é feita por meio de poemas recitados por renomados poetas, enquanto atores e a anfitriã, a atriz Laura Di Luca, conduzem a cerimônia.

No ponto alto, por volta da meia-noite, ocorre uma intempérie artificial: “flocos” caírão sobre a praça, acompanhados por um anjo voador e efeitos especiais, ao som de performances musicais e cinegrafia luminosa — um momento carregado de emoção e beleza estética.

A devoção ao título “Madonna della Neve” transcende o simbolismo. A basílica abriga a venerada icona da “Salus Populi Romani” e relíquias da manjedoura de Belém, consolidando o templo como ponto de encontro entre fé e história. Assim, a festa une o povo romano e os visitantes em uma experiência litúrgica e cultural única, onde o rito e o espetáculo se entrelaçam na imponência barroca do lugar.

O Milagre da Neve não é apenas uma festa: é um momento de reencontro com a própria história da cidade, a memória coletiva e a beleza renovada pela arte. E mesmo que a neve não caia mais poética e misteriosamente do céu, as pétalas e os lasers nos lembram que Roma, no coração de agosto, continua a brilhar com o manto de pureza deixado por uma devoção milenar.

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