seg. nov 3rd, 2025

Friuli e Brasil unidos pela língua: o “furlan” torna-se idioma cooficial em Ivorá, símbolo vivo da imigração italiana no Rio Grande do Sul

ByFrancesco Sibilla

3 de novembro de 2025 , ,

A pequena cidade de Ivorá, conhecida também como Nova Údine, no coração da “Quarta Colônia de Imigração Italiana”, acaba de escrever um novo capítulo na história das relações culturais entre o Brasil e a Itália. O dialeto friulano (furlan) foi reconhecido como língua cooficial do município, ao lado do português, por meio da Lei Ordinária nº 1682/2025, aprovada no dia 26 de setembro.

A nova lei autoriza o uso do furlan em atos públicos, administrativos e cerimônias oficiais, além de incentivar sua promoção por meio de projetos culturais e educacionais. O texto foi apresentado pelo Fogolâr Furlan de Nova Údine, representado por Hektor Giacomelli (presidente) e Ângelo Simonetti (vice-presidente e vereador), e aprovado pelo prefeito Josemar Osmari.

Um elo histórico entre Friuli e Rio Grande do Sul

A medida nasce do desejo de preservar a herança linguística e cultural dos imigrantes friulanos, que chegaram ao sul do Brasil no final do século XIX. Em Ivorá, o friulano nunca desapareceu: é falado nas casas, nas ruas, nas celebrações religiosas e nas festas populares — um traço identitário que atravessou gerações.

“O furlan é parte viva da nossa memória e da nossa forma de ver o mundo. Torná-lo cooficial é reconhecer nossa história e reafirmar o orgulho das nossas origens”, afirma o presidente do Fogolâr Furlan, Hektor Giacomelli.

Ivorá é considerada o centro mais fiel à tradição friulana no Brasil, entre as oito comunidades que mantêm associações ligadas ao Ente Friuli nel Mondo. É também a única onde o dialeto segue sendo falado no cotidiano, especialmente entre famílias e comunidades rurais.

Duas línguas, uma mesma alma

Com o reconhecimento oficial, o município pretende desenvolver programas bilíngues nas escolas, promover intercâmbios culturais e parcerias com instituições italianas, e estimular o registro oral e escrito da língua — um passo importante para garantir sua transmissão às novas gerações.

A prefeitura reforça que o objetivo não é apenas manter uma herança linguística, mas também celebrar a convivência entre o português e o friulano como expressão de uma identidade híbrida, plural e solidária, construída ao longo de mais de um século de imigração.

“A cooficialização do friulano é mais do que um gesto simbólico: é um ato de amor à história e um compromisso com o futuro”, destaca o prefeito Josemar Osmari.

A “Nova Údine” e o Monte Grappa: raízes que cruzam o oceano

Localizada a cerca de 500 metros de altitude, Ivorá é parte do Geoparque da Quarta Colônia, região marcada pela forte presença de descendentes italianos originários do Vêneto, Trentino e Friuli.

Na saída da cidade, em direção a Faxinal do Soturno, ergue-se o Monte Grappa, batizado em homenagem à montanha símbolo da resistência italiana. O local tornou-se um marco da união espiritual e cultural entre a terra gaúcha e a terra mãe, representando o elo afetivo entre os povos de Friuli e do Rio Grande do Sul.

Patrimônio vivo de uma identidade

O reconhecimento do dialeto furlan como língua cooficial insere Ivorá em um movimento mais amplo de valorização das línguas de imigração no sul do Brasil — onde o talian, o trentino e agora o friulano voltam a ganhar espaço institucional.

A decisão reforça a importância da diversidade linguística como elemento de cidadania, memória e desenvolvimento humano. Entre Itália e Brasil, o friulano de Ivorá é hoje um idioma de afeto e pertencimento, ponte viva entre passado e futuro.

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