ter. dez 30th, 2025

Em Pagliara dei Marsi, o tempo parou. Depois, Lara chegou

Por quase trinta anos, em Pagliara dei Marsi, o tempo continuou passando sem deixar novos sinais. As estações se repetiam, as casas resistiam ao silêncio, os passos se tornavam cada vez mais raros. Nenhum choro, nenhum berço, nenhum novo nome no registro civil. Até que, de repente, algo aconteceu. Uma menina nasceu. E aquele vilarejo de cerca de vinte habitantes voltou a respirar.

O nome dela é Lara Bussi Trabucco e ela é a primeira criança nascida em Pagliara desde 1996. Um acontecimento pequeno em números, gigantesco em significado. Tão simbólico que o jornal britânico The Guardian decidiu contar a história, levando esse pequeno canto dos Apeninos abruzzeses para além das fronteiras italianas.

Pagliara é um borgo antigo, rural, aos pés do Monte Girifalco. Ali, os gatos são mais numerosos que as pessoas, o silêncio virou rotina e o despovoamento levou embora gerações inteiras. Nos últimos anos, a perda de moradores idosos não foi acompanhada por novos nascimentos. “Nenhuma renovação”, resumiu a prefeita Giuseppina Perozzi, vizinha da pequena Lara.

A mãe, Cinzia Trabucco, tem 42 anos e é professora de música. Nascida em Frascati, trabalhou por anos em Roma antes de decidir mudar de vida. Escolheu o vilarejo do avô para formar uma família longe do caos urbano. Foi ali que conheceu Paolo Bussi, operário da construção civil, de 56 anos. Dessa escolha nasceu Lara. E com ela, um novo começo.

“Pessoas que nunca tinham ouvido falar de Pagliara vieram até aqui só porque souberam da Lara”, contou Cinzia ao Guardian. “Com apenas nove meses, ela já é famosa”. O batizado, celebrado na igreja em frente à casa, reuniu toda a comunidade. Um acontecimento raro, quase solene.

Mas a história também revela o outro lado do país. Segundo o ISTAT, em 2024 a Itália registrou apenas 369.944 nascimentos, o menor número da história recente. A taxa de fecundidade caiu para 1,18 filho por mulher, uma das mais baixas da União Europeia. Em Pagliara, esses dados ganham rosto e nome.

A família pensa no futuro com alegria, mas também com incertezas. A última professora do vilarejo dava aulas em casa, décadas atrás. Hoje, as escolas mais próximas ficam em Castellafiume, mas nem mesmo ali há garantias de continuidade. “Incentivos financeiros não são suficientes”, diz Cinzia. “O sistema inteiro precisa ser repensado”.

Lara ainda não sabe disso. Dorme, cresce e chora como qualquer bebê. Mas seu nascimento virou símbolo. De esperança, sim. E também de alerta. Porque às vezes basta uma única criança para mostrar quanto um país inteiro está envelhecendo em silêncio.

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