Se a qualidade de vida fosse uma obra de arte, a Itália teria uma nova capital. Esqueça o caos monumental de Roma ou a efervescência da moda em Milão. A verdadeira obra-prima do bem-estar urbano, segundo um dos mais abrangentes diagnósticos já feitos na Europa, está aninhada aos pés dos Alpes Dolomitas. É Bolzano, a capital do Tirol do Sul, que emerge triunfante, coroada não apenas como a cidade mais saudável da Itália, mas como uma joia rara no cenário europeu, ocupando a 35ª posição geral.
A revelação vem do prestigioso Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), cujo novo Índice de Design Urbano Saudável atuou como um raio-x em 917 cidades do continente. Mais do que um simples ranking, o estudo é um manifesto que avalia como o próprio desenho de uma cidade pode promover ou minar a saúde de seus cidadãos. E a receita de Bolzano, como se vê, é um primor.
Enquanto a Europa é liderada por cidades de escala humana como Pamplona (Espanha) e Genebra (Suíça), a performance de Bolzano brilha intensamente. Mas qual é o segredo de seu sucesso? A resposta está na harmonia entre 13 parâmetros cruciais. A cidade respira melhor, com baixíssimos níveis de poluição do ar (NO₂ e partículas finas PM2.5); seus cidadãos se movem melhor, graças a uma rede de ciclovias que é o padrão-ouro e um transporte público eficiente que desestimula o uso do carro; e descansam melhor, com uma poluição sonora significativamente menor.
Fundamentalmente, Bolzano é uma cidade de “pulmões verdes”. A acessibilidade a parques, jardins e espaços naturais não é um luxo, mas um pilar de seu planejamento. A sombra das árvores mitiga o calor no verão e o verde onipresente convida à atividade física e ao relaxamento mental, elementos que o estudo de Barcelona provou serem vitais para a saúde urbana.

O contraste das gigantes e o mapa europeu do bem-estar
A luz radiante de Bolzano lança uma sombra profunda sobre as grandes metrópoles italianas. Em um contraste que força uma reflexão nacional, Milão surge apenas na 202ª posição, enquanto Roma, a Cidade Eterna, afunda para um alarmante 560º lugar. O diagnóstico é claro: o peso de seu tráfego incessante, a sinfonia dissonante do ruído urbano e a dificuldade de acesso a espaços verdes de qualidade para milhões de seus habitantes cobram um preço alto em seu bem-estar.
Mesmo metrópoles europeias mais bem posicionadas, como Madri (39ª), mostram que, embora possam se destacar em planejamento e transporte, raramente conseguem competir com a qualidade ambiental e a tranquilidade de centros menores. O mapa traçado pelo ISGlobal é revelador: a Europa Ocidental, notadamente o Reino Unido, Espanha e Suécia, concentra as cidades mais virtuosas. Em contrapartida, o Leste Europeu, com cidades na Romênia, Bulgária e Polônia, enfrenta os maiores desafios para alinhar seu desenvolvimento urbano com a saúde de sua população.
No fim, a história de Bolzano e de sua surpreendente companheira no pódio italiano, Campobasso (líder entre os pequenos centros europeus), não é apenas sobre rankings. É uma lição poderosa. Demonstra que a verdadeira modernidade não reside na grandiosidade dos monumentos ou na pulsação frenética da economia, mas na capacidade de tecer, no próprio tecido urbano, um ambiente que cuida, que acalma e que promove a vida em sua forma mais plena e saudável. É um convite para que todas as cidades, grandes e pequenas, redescubram a arte de projetar para pessoas.