Na Itália, onde o passado nunca está muito distante do presente, o verão convida a viver a história de um jeito pouco convencional — à noite, sob o céu estrelado, entre colunas iluminadas e ruínas que ganham nova vida com música, teatro e arte. De Herculano ao Coliseu, de Selinunte ao Vale dos Templos, o país transforma seus sítios arqueológicos em verdadeiros palcos a céu aberto, oferecendo ao público experiências culturais que misturam memória, espetáculo e emoção.
É o caso do Parque Arqueológico de Herculano, onde até 27 de setembro acontecem as “Sextas-feiras de Herculano”. Não se trata apenas de uma visita noturna: o público, limitado a mil pessoas por noite, caminha pelas ruas preservadas da antiga cidade romana sob uma iluminação que realça afrescos, colunas e banhos termais, enquanto assiste a apresentações teatrais, concertos e performances site-specific. Um dos pontos altos é a visita à Vila dos Papiros, uma residência aristocrática à beira-mar que guarda mais de 1.800 pergaminhos carbonizados e esculturas de bronze e mármore — um raro vislumbre da vida intelectual e estética do mundo romano.
Também na Campânia, o Parque de Paestum e Velia aposta em eventos culturais para dar nova dimensão à visita arqueológica. Em 26 de julho, a cantora Serena Brancale se apresenta em Elea Velia; no dia 7 de agosto, o coração do Parque de Paestum será palco de um espetáculo musical com Mara Venier; e em 11 de agosto, Simone Cristicchi une poesia, narrativa e música numa performance que evoca memória e identidade. É a história como dramaturgia viva.
Em Roma, os Fóruns Imperiais se abrem ao público em passeios guiados noturnos até 28 de setembro, sempre às sextas, sábados e domingos. A jornada começa na Coluna de Trajano e leva os visitantes por túneis sob a Via dei Fori Imperiali até o Fórum de César, a Cúria do Senado e outros pontos fundamentais do poder romano. À noite, entre pedras milenares e sombras dramáticas, a capital parece sussurrar segredos esquecidos.
Já o Coliseu, ícone absoluto da Roma Antiga, ganha um novo olhar com o evento “Uma Noite no Coliseu”. Às terças e quintas, até 30 de setembro, visitas guiadas noturnas revelam os bastidores do anfiteatro — dos subterrâneos às áreas técnicas, passando por exposições com hologramas, armaduras antigas e vídeos que recriam o frenesi dos antigos espetáculos de gladiadores. O percurso, acessado pelo Portão Valadier, culmina com uma vista surpreendente da arena ao luar.
Na Sicília, duas joias arqueológicas completam o roteiro noturno. Em Agrigento, o Vale dos Templos estende seu horário até as 23h em dias úteis (e até meia-noite aos fins de semana e feriados), com passeios guiados que começam ao pôr do sol e avançam pela noite entre os templos dóricos iluminados — um cenário que parece saído de um sonho helenístico.
Em Selinunte, o verão é sinônimo de cultura: até 13 de setembro, o Parque Arqueológico promove 60 eventos que reúnem música, literatura e pensamento. Entre os nomes confirmados estão o cineasta Paolo Sorrentino, o filósofo Umberto Galimberti, o escritor Alessandro D’Avenia, além de artistas como Stefano Bollani, Francesca Michielin, Paola Turci e Simona Molinari. A parceria com o Festival della Bellezza transforma Selinunte num epicentro de arte e reflexão contemporânea, em pleno cenário antigo.
Mais do que resgatar o passado, essas iniciativas mostram que o patrimônio arqueológico italiano não é estático. Ele respira, se transforma e convida o público a novas formas de fruição. E quando a luz do entardecer dá lugar ao brilho dos refletores, a Itália prova — mais uma vez — que ninguém sabe contar histórias como ela. Especialmente as que começam há milênios.