sex. dez 26th, 2025

Um Natal com cheiro de uvas e rabanadas

22 de dezembro de 2025, mais uma das inúmeras idas ao supermercado para comprar a famosa lista de ingredientes para a ceia de Natal. A demanda é grande, as filas nunca terminam e a paciência diminui de forma gradual. Enquanto espero minha vez de pedir os frios para a atendente, sinto um aroma adocicado que me leva ao passado.

Entre castanhas, nozes, amêndoas e iguarias europeias, elas estão isoladas em uma prateleira comum, com outras frutas de “menor importância”. Pego nas mãos um cacho de uvas Niágaras, respiro fundo e volto para o apartamento da minha avó. Década de 1980, primos correndo pela sala, minha avó recebendo a família e os cachos de uva enfeitando a mesa natalina.

As regras de “não subir no sofá”, “não aumentar o som da televisão” ou “esperar meia noite para abrir os presentes” eram obedecidas a contragosto, mas não tinha um familiar que passasse pela mesa sem experimentar um cacho de uva niágara. O perfume inundava o apartamento e todos se rendiam à tentação, mesmo que tivessem que enfrentar a Vó Zilma. Claro que ela nunca conseguiu chegar até a ceia de Natal com a mesa “bonita para a foto”.

A mesa, aliás, era um espetáculo à parte. Decorada nos detalhes, ela ficava no centro da sala do apartamento da minha avó. Os imóveis antigos do Rio de Janeiro têm o privilégio de ser enormes. O dela ficava no bairro do Méier, zona norte do Rio de Janeiro. Era ali, e entorno da mesa, que a minha família se reunia para os principais eventos do ano. E o Natal era um deles.

Cada integrante da família ficava responsável por levar algum item para a ceia. Minha mãe era a dona das rabanadas, sobremesa tradicional na capital fluminense. “Natal sem rabanadas não é Natal!”, ela diz até hoje. E assim é desde as minhas primeiras lembranças familiares. É assim até hoje.

Os preparativos começam no dia 23 de dezembro, quando temos que comprar o pão de rabanada ou o francês. A receita pede que o pão seja adormecido. Sim, os detalhes são importantes e seguidos à risca. Na tarde do dia 24, minha mãe corta os pães enquanto eu faço a mistura de açúcar e canela. Cada fatia é passada lentamente no leite açucarado com leite condensado e elas seguem para a fritura. Minha tarefa é passar cada rabanada na mistura seca e doce, mas eu vou além… como metade das rabanadas quentes que fazemos na cozinha. Minha mãe até tenta me impedir, mas sabe que essa é uma tarefa impossível, principalmente porque há alguns anos meu filho me ajuda nessa missão gastronômica.

Entre risadas, broncas e promessas de “comprar mais pão para o ano que vem”, estar na cozinha junto com a minha mãe e meu filho é mais do que preparar rabanadas, é estar em conexão, é lembrar que somos parte de um todo, é celebrar os antepassados, é festejar um momento especial com uma das minhas melhores companhias. É lembrar que Natal tem cheiro de uvas e rabanadas, é família, afeto, memória e amor. Muito amor.

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