Por trás de cada café tomado numa praça histórica, de cada hotel lotado no verão e de cada prato de pasta servido a turistas do mundo inteiro, existe uma engrenagem econômica poderosa. E agora ela tem números claros. É isso que mostra o Conto Satélite do Turismo, o instrumento do Istituto nacional de estatística (Istat) que mede quanto o turismo realmente pesa na economia italiana.
Mas afinal, o que é esse Conto Satélite? Trata-se de um modelo adotado internacionalmente para calcular o impacto real do turismo, indo além dos gastos diretos de quem viaja. Ele soma não apenas o que turistas pagam em hotéis, restaurantes ou museus, mas também os efeitos indiretos dessa demanda sobre toda a economia: transporte, comércio, serviços, cultura, produção de alimentos, energia e emprego. Em outras palavras, revela o que o turismo movimenta de verdade.
Os dados de 2023 deixam isso muito claro. O consumo turístico direto gerou 106,8 bilhões de euros em Produto Interno Bruto. Quando entram na conta os efeitos indiretos, o valor praticamente dobra e chega a 206,4 bilhões de euros, o equivalente a 9,6% de todo o PIB da Itália. Um número que confirma o turismo como um dos pilares estruturais do país.
Ao longo de 2023, a Itália registrou cerca de 777 milhões de fluxos turísticos, somando pernoites e excursões de um dia. É uma recuperação consistente após a pandemia, ainda que sem atingir o pico histórico de 2019. A maior parte do consumo turístico interno veio dos próprios italianos, responsáveis por 40,7% dos gastos, enquanto os visitantes estrangeiros responderam por 37,5%. Juntos, turismo doméstico e internacional representam mais de 78% de toda a demanda do setor.
O impacto também aparece com força no mercado de trabalho. Mais de 4 milhões de postos estão ligados às indústrias do turismo, o que corresponde a 14,4% de todas as posições de trabalho da economia italiana. Hospedagem, alimentação e comércio concentram mais de 80% desses empregos. Os rendimentos pagos aos trabalhadores do setor somaram cerca de 76 bilhões de euros, ou 9,3% de toda a massa salarial do país.
Ao mesmo tempo, o relatório aponta um contraste importante: a produtividade média e a renda per capita no turismo seguem abaixo da média nacional. É o retrato de um setor que gera muito emprego e riqueza, mas que ainda enfrenta desafios ligados à valorização do trabalho, à qualificação profissional e à inovação.
No cenário europeu, a Itália continua entre as grandes potências do turismo. A comparação com a Espanha é inevitável: lá, o impacto direto e indireto do turismo chega a 12,3% do PIB. A balança turística italiana, porém, permanece positiva, com um saldo de 26,6 bilhões de euros, sinal de que o país continua atraindo mais gastos do que exportando turistas. A diferença em relação aos espanhóis está, em parte, no fato de os italianos viajarem e gastarem mais fora do país.
Para o público brasileiro, esses números ajudam a entender por que a Itália investe tanto em cultura, cidades históricas, gastronomia e experiências autênticas. O turismo não é apenas paisagem e memória: é economia real, emprego e estratégia de futuro. E cada viagem pelo país, mesmo a mais simples, faz parte dessa engrenagem que mantém a Itália em movimento.
Os impactos ‘satélites’ do turismo: quase 10% do PIB italiano vem dos gastos em viagens

