Matera, uma cidade que respira história a cada pedra dos seus Sassi, o passado não é apenas algo para ser contemplado, mas para ser vivido. Um dos projetos mais audaciosos do cenário hoteleiro italiano, o Moyseion, não é apenas um hotel, mas um “museu habitado” que desafia o conceito de visita passiva. Aqui, os hóspedes são convidados a se tornarem habitantes temporários de uma era distante, e o ponto alto dessa jornada no tempo é a mesa, onde o jantar é um ritual que evoca o luxo e a filosofia da Magna Grécia.
O Simpósio: Onde o paladar encontra a sabedoria antiga
Esqueça a formalidade de um restaurante moderno. No Moyseion, a experiência gastronômica se inicia ao cair da tarde, no Simpósio, uma recriação fiel do Convivium noturno. Ao invés de cadeiras, os convidados reclinam-se em triclínios — confortáveis divãs dispostos em círculo — um hábito que simbolizava o descanso após o trabalho e a igualdade entre os participantes.
O banquete não é uma simples refeição, mas uma cerimônia em duas partes. A primeira, dedicada à alimentação, é um prelúdio para a segunda, onde o vinho flui e a discussão intelectual floresce. Em bandejas de cobre, servidas por uma equipe que mais se assemelha a curadores vivos do que a garçons, surgem iguarias que ecoam a dieta dos antigos gregos. Pão de cevada, purê de grão-de-bico, queijos rústicos de cabra e ovelha, azeitonas e frutas secas formam o cardápio, uma paleta de sabores que remonta a uma culinária ligada à terra, à simplicidade e à nutrição.
O ar é preenchido pela melodia hipnótica de instrumentos de época, como a lira grega e o aulos, tocados por músicos em trajes tradicionais. O som não é um mero fundo musical, mas uma parte essencial da atmosfera, uma trilha sonora para a jornada que se está a viver. Não se trata apenas de comer, mas de celebrar a vida e o conhecimento, como era costume nos banquetes de 2.000 anos atrás, onde a conversa sobre filosofia, poesia e política era tão nutritiva quanto a comida.
Akratismós: O despertar com os sabores da antiguidade
A viagem no tempo não termina com a noite. A manhã traz o Akratismós, o bufê de café da manhã servido em louças que recriam peças antigas. O menu é uma celebração da dieta matinal dos gregos: focaccia temperada, pastéis de ricota e figo, ovos de codorna e iogurte com mel e nozes. Cada prato é um fragmento de história, extraído de manuscritos antigos e recriado com precisão para oferecer um despertar autêntico aos hóspedes. É a prova de que a dedicação do Moyseion à imersão histórica permeia cada aspecto da estadia, do nascer ao pôr do sol.
Além do jantar: Uma experiência cinematográfica
A mágica do lugar reside em sua equipe, que eleva a experiência de “museu habitado” a um novo patamar. Em vez de profissionais de hotelaria, os departamentos são compostos por arqueólogos, filólogos, historiadores da arte e músicos, que não apenas servem, mas também contam a história por trás de cada prato e de cada melodia. A curadoria do figurino, a pesquisa acadêmica por trás de cada detalhe, e a paixão de um elenco multidisciplinar transformam o hotel em um palco vivo.
O lugar oferece mais do que uma simples estadia; é uma viagem no tempo, onde a gastronomia desempenha um papel central na recriação de um passado glorioso. Ao jantar como se fazia há 2.000 anos, os hóspedes não apenas degustam pratos deliciosos, mas também se conectam com a rica herança cultural da Magna Grécia, vivenciando a história de uma maneira única e inesquecível.