Quando o Papa Leão XIV desceu do avião em Istambul, o ar carregava o perfume sutil das grandes viradas históricas. Não era uma viagem qualquer, nem uma missão diplomática rotineira: era o primeiro gesto de um pontificado que, desde o início, mostrou um traço inconfundível , o desejo de reconectar, reconciliar e recordar.
A escolha de começar pela Turquia e pelo Líbano, duas terras que guardam no coração feridas antigas e esperanças persistentes, revelou-se imediatamente simbólica. Ali, onde a história do cristianismo se entrelaçou com impérios, migrações e diálogos difíceis, o Papa quis fazer ecoar uma palavra simples e poderosa: unidade.
O retorno a Niceia: uma ponte de 1.700 anos
Em Iznik, a antiga Niceia, as pedras do grande concílio pareciam esperar há séculos uma voz que recordasse o significado daquela assembleia extraordinária de 325. Para o Papa Leão, celebrar os 1.700 anos do Concílio não foi um gesto arqueológico, mas um ato político e espiritual ao mesmo tempo.
Ali, onde o Credo tomou forma, o Pontífice evocou a responsabilidade de todas as Igrejas cristãs: reconhecer o que as une é hoje mais urgente do que insistir no que as divide.
Na Turquia, país suspenso entre a Ásia e a Europa, onde o chamado do muezim dialoga com a cúpula de Santa Sofia, o Papa lançou uma mensagem de convergência entre religiões:
“As diferenças não são barreiras, mas caminhos”.
E é exatamente por esses caminhos que Leão XIV escolheu caminhar.
Beirute: um carinho à resiliência
A segunda etapa, o Líbano, mudou o ritmo da visita. Em Beirute, cidade que há anos vive em um equilíbrio instável entre crise econômica, tensões sociais e memórias de guerras, o Papa Leão chegou como um peregrino do consolo.
As multidões o receberam sem bandeiras ou slogans: havia olhares, mãos estendidas, um desejo evidente de serem ouvidos.
Diante dos cristãos, mas também dos muitos muçulmanos presentes, o Papa pronunciou palavras que atravessaram a cidade como uma brisa rara:
“O mundo não pode se dar ao luxo de perder o Líbano: perdê-lo seria perder um laboratório de convivência”.
Em um país onde as comunidades cristãs temem tornar-se apenas um eco do passado, a presença papal teve a força de um abraço coletivo. Não uma visita protocolar, mas um gesto concreto de proximidade, capaz de transformar a dor em dignidade.
Um sinal ao mundo
Para além das etapas e encontros, a viagem do Papa Leão carrega uma mensagem mais ampla: no coração do Mediterrâneo, onde se cruzam as rotas das antigas civilizações e das crises contemporâneas, ainda existe espaço para uma palavra de paz credível.
O Papa a levou não com discursos grandiosos, mas com gestos ponderados: escuta, oração compartilhada, mão estendida a líderes religiosos e políticos.
Num mundo que parece preferir muros a pontes, o Papa Leão escolheu o único gesto verdadeiramente revolucionário possível: voltar às origens para iluminar o futuro. Por GR


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