sáb. dez 13th, 2025

Itália, um Sul que escorrega rumo ao futuro: quando há mais aposentados do que trabalhadores.

Há uma imagem que inquieta, uma fotografia que não deixa espaço para dúvidas: no Mezzogiorno italiano, hoje, existem mais aposentadorias do que trabalhadores ativos. Não é exagero, não é figura de linguagem. É a secura dos números, daqueles que não negociam com a realidade. Em 2024, o Sul e as Ilhas registraram 7,3 milhões de benefícios pagos contra apenas 6,4 milhões de pessoas ocupadas. Uma desproporção inexistente em qualquer outra região do país, um peso enorme sobre o presente e uma ameaça silenciosa ao futuro.

E então a pergunta é inevitável: até quando um território pode resistir quando quem produz riqueza é menos numeroso do que quem a recebe? Quanto tempo um sistema tão desequilibrado pode sobreviver antes de rachar de vez?

A Puglia tornou-se o símbolo desse abismo, liderando o ranking negativo com um saldo de –231.700 pessoas. Um número quase irreal se comparado à força do Norte produtivo: Lombardia +803 mil, Veneto +395 mil, Lazio +377 mil. É como observar países distintos convivendo dentro da mesma fronteira. Uma Itália dividida, incapaz de se reencontrar.

A análise do Ufficio Studi da CGIA é direta: sem combater o trabalho informal, sem ampliar a base de trabalhadores, sem investir seriamente em jovens e mulheres, a sustentação das contas públicas ficará comprometida. É um alerta duro, quase um ultimato. Mas quem realmente está ouvindo?

Enquanto isso, uma nova onda se aproxima: entre 2025 e 2029, mais de três milhões de italianos deixarão seus postos de trabalho. E mais de 70% estão no Centro-Norte. Um êxodo que parece uma fenda se abrindo lentamente sob os pés da economia.

Será uma “fuga de escritórios e linhas de montagem”, como define a análise, com milhões de baby boomers abandonando o mercado de trabalho e levando consigo experiência, estabilidade, qualificação. Atrás deles, um vazio difícil de preencher.

As empresas buscam, e buscam desesperadamente. Operários, técnicos, pedreiros, profissionais que ninguém parece mais disposto a ser. Trabalhos que soam antigos, quase fora do tempo. E se hoje já é difícil encontrar mão de obra, o que acontecerá amanhã?

A geografia das províncias também conta uma história que arde: Lecce –90.306, Reggio Calabria –86.977, Cosenza –80.430, Taranto –77.958. E Messina –77.002. Comunidades inteiras onde o número de beneficiários supera em muito o de trabalhadores ativos. Não por envelhecimento natural, mas por uma rede assistencial que se tornou regra, não exceção.

E não é só o Sul. O Norte também começa a tremer: Rovigo, Sondrio, Alessandria, Ferrara, Genova, Savona. Províncias que já foram sinônimo de dinamismo agora aparecem com saldo negativo.

Das 107 províncias monitoradas, apenas 59 mantêm saldo positivo. Uma Itália que encolhe, um mapa que perde cor.

E há ainda o peso da idade. Na Basilicata, existem 82,7 trabalhadores com mais de 55 anos para cada 100 com menos de 35. Na Sardenha, 82,2. No Molise, 81,2. É um país envelhecido, que olha para seus jovens como um recurso raro, quase exótico. Um país que corre o risco de não ter braços suficientes para sustentar o peso de sua própria história.

E então surge a pergunta final, incômoda, inevitável: até quando a Itália poderá sustentar esse equilíbrio instável? Até quando será possível perder jovens, empregos, contribuintes, enquanto cresce o número de quem depende do Estado?

Se nada mudar, alerta a CGIA, a estabilidade econômica e social do país poderá ser seriamente ameaçada.

Não é apenas um aviso.
É um despertador.
E ele já toca há tempo demais.

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