qui. dez 18th, 2025

Itália se alinha à França e pede mais garantias antes de assinar acordo UE-Mercosul



A Itália decidiu caminhar ao lado da França no momento mais delicado das negociações entre a União Europeia e o Mercosul e pedir o adiamento da assinatura do acordo, inicialmente prevista no Brasil o dia 20 de dezembro. O recado vindo de Roma é claro: o acordo é estratégico, político e comercialmente relevante, mas não pode ser assinado sem garantias concretas para o setor agrícola europeu.

Nas comunicações ao Parlamento antes do Conselho da UE, a primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que assinar o tratado “nos próximos dias” seria prematuro. Segundo ela, ainda é necessário finalizar um pacote de medidas adicionais para proteger os agricultores e, sobretudo, discutir essas salvaguardas diretamente com quem trabalha no campo.

A posição italiana não é de bloqueio, mas de cautela: o governo está disposto a aprovar o acordo assim que houver garantias efetivas de reciprocidade entre os produtores europeus e os do Mercosul. Para Meloni, essas condições podem estar maduras no início de 2026.

O ponto central da preocupação italiana é o equilíbrio competitivo. Nos últimos meses, Roma trabalhou com a Comissão Europeia para avançar em mecanismos de salvaguarda, na criação de um fundo de compensação para eventuais impactos negativos e no reforço dos controles fitossanitários sobre produtos importados. Medidas importantes, mas que, segundo o governo, ainda não estão totalmente finalizadas.

A mesma linha foi reforçada pelo vice-primeiro-ministro e chanceler Antonio Tajani. Para ele, o acordo será assinado “agora ou em janeiro”, desde que sejam ajustadas as cláusulas de proteção ao agro. Tajani deixou claro que a Itália é favorável ao tratado, mas insiste em correções que garantam regras equivalentes: aquilo que é exigido dos produtores europeus em temas como pesticidas, antibióticos e direitos trabalhistas deve valer também para os produtos que entram no mercado da UE.

Esse posicionamento aproxima a Itália da França, que já pediu formalmente o adiamento da votação no Conselho da União Europeia. Paris considera que os avanços nas salvaguardas ainda são insuficientes. Com o apoio italiano e a oposição declarada de países como Polônia e Hungria, além das reservas da Áustria e da Irlanda, forma-se uma minoria de bloqueio capaz de postergar a decisão.

Do outro lado do Atlântico, a pressão cresce. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva cobrou publicamente que Meloni e Emmanuel Macron assumam a responsabilidade política para viabilizar a assinatura ainda este ano. A resposta italiana, porém, mantém o tom firme: o acordo com o Mercosul é desejado, mas só será fechado quando for positivo para todos os setores envolvidos, especialmente para quem produz alimentos na Europa.

O impasse não encerra as negociações, mas redesenha o calendário. Itália e França apostam em mais tempo para ajustar regras e construir consenso. Para o Mercosul, inclusive o Brasil, isso significa uma espera maior. E uma negociação que entra em sua fase mais sensível.

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