sex. set 5th, 2025

Fecha (ou quase) o Caffè Greco de Roma após 260 anos: adeus ao berço dos intelectuais.

Depois de uma batalha judicial que durou oito anos, o Antico Caffè Greco, na Via dei Condotti, fundado em 1760 e ponto de encontro de gênios como Keats, Shelley, Goethe, Leopardi, Pasolini, Joyce e muitos outros, está a um passo do fechamento definitivo. A controvérsia começou em 2017, quando o contrato de aluguel com o Ospedale Israelitico (proprietário do imóvel) não foi renovado.

Desde então, os administradores, Flavia Iozzi e o marido Carlo Pellegrini, teriam oferecido cifras altíssimas, propondo inclusive a compra do espaço ou aluguéis anuais de até 800.000 €, mas o Hospital recusou todas as propostas. A Corte de Cassação, em julho de 2024, confirmou definitivamente a legalidade do despejo, permitindo que o Hospital retomasse a posse do imóvel. Após vários adiamentos, a execução estava marcada para 1º de setembro, mas foi posteriormente adiada para 22 de setembro.

O Caffè guarda mais de 300 obras – quadros, esculturas, móveis de época, considerados parte integrante do patrimônio histórico-cultural. Em 1953, o governo impôs um vínculo de inamovibilidade sobre o espaço e seu acervo; em 2024, o Decreto Legislativo 219/2024 reforçou a proteção, estabelecendo que imóvel e mobiliário constituem “uma única entidade”. Na semana passada, os administradores transferiram para dois depósitos externos parte desses bens por motivos de segurança, alegando superaquecimento da rede elétrica, o que provocou uma denúncia dos Carabinieri do Núcleo de Proteção ao Patrimônio Cultural. O Hospital insiste que, mesmo sendo de propriedade privada dos gestores, os bens devem ser devolvidos ao seu local original; eventuais indenizações seriam avaliadas depois.

O caso ganhou repercussão política. O parlamentar Domenico Gramazio pediu intervenção do governo, denunciando uma especulação imobiliária por trás do despejo, e destacou que o Caffè Greco é reconhecido como bem cultural unitário pela lei 219/2024, portanto intocável. Hoje, a placa ainda exposta na entrada diz “Fechado para férias”, mas o risco de mudança de gestão, transferência ou fechamento definitivo é evidente. Os administradores mantêm aberta a possibilidade de reabrir em outro lugar, mas a lei e o vínculo de proteção não permitem que o “espírito” do Caffè seja simplesmente transferido. Agora, todas as atenções se voltam para 22 de setembro, data em que o Oficial de Justiça deve executar o despejo, a menos que haja novo adiamento ou um acordo de última hora.

O Antico Caffè Greco, símbolo da cultura romana por mais de dois séculos e meio, está hoje no centro de um confronto entre a proteção do patrimônio e as pressões imobiliárias. A batalha judicial, cultural e política continua, enquanto o horizonte de 22 de setembro pode marcar um ponto decisivo.

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