dom. dez 14th, 2025

Entre carteiras, fábricas e periferias: o verdadeiro impacto dos estrangeiros na Itália

Na Itália, a população estrangeira representa hoje cerca de 8,7 % dos residentes. Uma porcentagem aparentemente modesta, mas suficiente para influenciar de forma estrutural três âmbitos-chave da sociedade: escola, trabalho e pobreza.
O impacto dessa presença não se mede apenas em números, mas nos equilíbrios econômicos e sociais de um país que envelhece, cresce pouco e precisa de nova força produtiva.

Escola: entre inclusão e desigualdades

No ano letivo de 2022/2023, os alunos com cidadania não italiana eram 914.860 — o equivalente a 11,2 % do total. Em muitas escolas primárias do Norte e do Centro do país, a proporção ultrapassa 30%, com salas de aula cada vez mais multiculturais.

A presença estrangeira, porém, ainda vem acompanhada de fortes desigualdades: 26,4 % dos estudantes estrangeiros estão em atraso escolar (contra 7,9 % dos italianos), e o risco de abandono é até três vezes maior.
As dificuldades linguísticas, o menor capital cultural das famílias e a carência de apoio personalizado ampliam a chamada “pobreza educacional” — a incapacidade de desenvolver plenamente as próprias competências.

As escolas italianas encontram-se, assim, no centro de um desafio complexo: não apenas garantir instrução, mas tornar-se laboratórios de integração, mediando culturas e línguas para evitar que a desigualdade inicial se transforme em exclusão social.

Trabalho: indispensáveis, mas precários

No mercado de trabalho, os estrangeiros são uma força necessária e, ao mesmo tempo, vulnerável. A taxa de emprego (66,2 %) é semelhante à dos italianos, mas o desemprego é quase o dobro: 10,1 % contra 6,1 %.

A maioria trabalha como assalariado (86 %), em setores de baixa qualificação — agricultura, construção civil, logística e assistência domiciliar, muitas vezes em condições precárias, com salários baixos e pouca proteção.
Apesar de muitos possuírem ensino médio ou superior, o não reconhecimento de diplomas estrangeiros e as barreiras linguísticas os confinam a empregos abaixo de suas qualificações.

Mesmo assim, sem eles, muitas cadeias produtivas e de cuidado parariam. Os estrangeiros ocupam funções que os italianos muitas vezes não querem ou não podem mais exercer, contribuindo de modo essencial para a continuidade do sistema econômico e demográfico. A integração dessa força de trabalho é, portanto, não apenas uma questão ética, mas também de sustentabilidade produtiva e previdenciária.

Pobreza: o abismo mais profundo

O dado mais alarmante diz respeito à pobreza. Segundo o Istat, em 2023 30,4 % das famílias com pelo menos um estrangeiro viviam em pobreza absoluta, contra 6,3 % das famílias italianas. Entre menores de idade estrangeiros, a incidência chega a 37 %.

A combinação de rendas baixas, empregos instáveis e maior número de dependentes gera um risco altíssimo de exclusão social.
A pobreza econômica se entrelaça com a educacional, num ciclo que se transmite entre gerações.
Num país com índice de desigualdade (Gini) acima da média europeia, a marginalização dos migrantes tende a se cristalizar, ampliando as fraturas sociais.

Oportunidades e políticas necessárias

A imigração não é apenas um custo: pode ser um recurso demográfico e produtivo.
Num país que perde centenas de milhares de jovens por ano e apresenta uma das menores taxas de natalidade da Europa, a presença estrangeira ajuda a manter ativa a força de trabalho e a sustentar o sistema previdenciário.

Além disso, muitos migrantes criam pequenas empresas, gerando redes comerciais e de inovação.
Entretanto, esses benefícios só se concretizam se o Estado investir em integração efetiva: ensino da língua italiana, reconhecimento de títulos, inserção profissional estável e combate à discriminação.

Na ausência dessas políticas, o risco é que a população estrangeira permaneça confinada às margens — útil ao sistema, mas excluída de seus benefícios.

Os estrangeiros influenciam profundamente a escola, o trabalho e a pobreza na Itália. São uma componente estrutural do país, não mais temporária. Suas dificuldades revelam, na verdade, as fragilidades do próprio sistema: a ineficiência educacional, a dualidade do mercado de trabalho e a amplitude das desigualdades.

Incluir e valorizar quem vem de fora não é apenas um ato de solidariedade — é uma escolha de inteligência coletiva.
Uma Itália capaz de integrar é também uma Itália capaz de crescer.

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