qua. dez 10th, 2025

Diário de Viagem: De Roma a Nápoles uma viagem que passa em 70 minutos 

O trem deixa Roma Termini com a pontualidade de um rito antigo. Quando as portas se fecham, o burburinho da estação se apaga e resta apenas a respiração metálica do Frecciarossa, como um batimento que convida à partida. Sentado ao lado da janela, observo a cidade deslizar: palácios austeros, muros gastos, depois espaços abertos com o sabor do Lácio. Roma se afasta sem nunca realmente ir embora — fica grudada em você, como a luz que atravessa os paralelepípedos depois da chuva.

A velocidade aumenta e a paisagem se estende: fileiras de vinhedos, casarões isolados, campos arados que parecem partituras nas quais o trem escreve notas vermelhas. De vez em quando, um túnel nos engole; emergimos novamente com a sensação de um fôlego mais profundo, como se a viagem estivesse escavando dentro de você.

E então, quase sem perceber, você descobre o privilégio da alta velocidade: Roma e Nápoles se tocam em apenas uma hora e dez minutos. O tempo de um café demorado, de um podcast curto demais, de um pensamento que você não terminou de formular.

Ao longo do percurso, as colinas campanas começam a ficar mais suaves, mais acolhedoras, quase um convite. O Vesúvio aparece de repente: não se anuncia, se impõe. De longe, é promessa e ameaça, um gigante imóvel que observa cada partida e cada chegada. No vagão, o silêncio se rompe: alguém arruma uma mala, outros tiram fotos, como se aquele cone perfeito fosse um sinal de boas-vindas pessoal.

O trem diminui a velocidade e o azul do Golfo se revela entre os prédios como um clarão inesperado. Napoli Centrale nos acolhe com seu sopro quente, uma mistura de vozes, sotaques, aromas e expectativas. Desço do trem com a sensação de que a viagem durou um instante e, ao mesmo tempo, abriu um mundo inteiro.

Roma–Nápoles no Frecciarossa não é apenas uma ligação: é uma linha sutil entre duas almas da Itália. Uma suspensão rápida, elegante, que te leva de uma capital eterna a uma cidade viva, pulsante, indomável. É o prazer simples e contemporâneo de se mover — rápido, leve, livre — entre histórias que continuam a te chamar mesmo quando o trem já partiu.

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