sex. out 17th, 2025

Costa Crociere vê no Brasil o futuro das viagens de cruzeiro o ano inteiro

O Brasil está cada vez mais no radar do turismo marítimo mundial. Segundo a italiana Costa Cruzeiros, o país tem tudo para se tornar um destino de cruzeiros durante os 12 meses do ano. A afirmação é de Dario Rustico, presidente da Costa para as Américas, em entrevista ao jornal O Globo. “O país tem clima, litoral e demanda suficientes. Mas, para isso, é preciso superar alguns desafios estruturais que ainda limitam o crescimento do setor”, destacou.

Entre os principais entraves, Rustico aponta os custos elevados, a instabilidade cambial e a falta de infraestrutura portuária moderna. “Os portos brasileiros ainda não possuem estrutura para abastecer navios com Gnl (gás natural liquefeito) nem conexão elétrica adequada para mantê-los atracados sem consumo de combustível”, explicou.

Atualmente, a companhia trabalha junto à Embratur e aos ministérios do Turismo e dos Portos em uma agenda com mais de 15 pontos estratégicos, que vão da competitividade fiscal à segurança regulatória. “Precisamos de uma visão de longo prazo, e isso começa com estabilidade nas regras do jogo”, disse Rustico.

Apesar dos desafios, a Costa Cruzeiros confirma uma temporada forte em 2025/2026, que começa em novembro. As duas embarcações da companhia – Costa Favolosa e Costa Diadema – terão 100% de ocupação e oferecerão itinerários nacionais, sul-americanos e até europeus. Além disso, a empresa planeja duas viagens de volta ao mundo, de 66 e 141 dias, ambas com paradas no Brasil. O navio Costa Diadema, inclusive, participará da COP30 em Belém, servindo como hotel flutuante durante o evento.

“Queremos consolidar o Brasil como um polo marítimo global, algo que já acontece em lugares como o Mediterrâneo e a Austrália. Mas isso exige um projeto de longo prazo e infraestrutura dedicada ao turismo, separada da carga”, ressaltou o presidente, apontando que Santos e Rio de Janeiro são os grandes focos para expansão. Há planos para um novo terminal exclusivo de cruzeiros no porto santista e para o projeto do Cais do Valongo, no Rio, ambos considerados essenciais para atrair novas companhias internacionais.

Se há uma década os navios de cruzeiro eram vistos como passeio de aposentados, hoje o cenário é outro. O público da Costa no Brasil está entre 35 e 40 anos, com destaque para famílias e millennials que buscam minicruzeiros de fim de semana. A empresa também aposta nas viagens temáticas, que se tornaram tendência: cruzeiros com artistas como Roberto Carlos, Gilberto Gil e Ana Castela atraem multidões. “Os navios são plataformas, podemos transformá-los em palcos culturais, espaços de inovação ou até hotéis flutuantes para grandes eventos”, explica Rustico.

Com o setor sendo criticado por seu impacto ambiental, a Costa destaca os avanços em sustentabilidade. A companhia foi a primeira a operar com combustível Gnl, e agora testa soluções com hidrogênio e baterias de lítio, buscando impacto zero até 2050. “Não se trata apenas das emissões, mas de um trabalho 360°, desde o design do navio até a eficiência de cada rota”, afirma o executivo.

Setenta e sete anos após seu primeiro navio – o Anna C., que saiu de Gênova rumo a Buenos Aires com uma escala no Rio – a Costa Cruzeiros segue profundamente conectada ao Brasil. E se depender de Dario Rustico, essa relação está apenas começando. “O conceito de temporada é algo absurdo para um país como o Brasil. Temos um litoral imenso e condições ideais para cruzeiros o ano inteiro. Falta apenas transformar esse potencial em estratégia”.

Com mais diálogo público-privado e investimentos em infraestrutura, o Brasil pode, enfim, navegar rumo a um turismo marítimo permanente e consolidar-se como o coração latino das viagens de cruzeiro.

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