Há lugares que resistem ao tempo não apenas por servirem boa comida, mas por contarem histórias. Em meio à agitação e às transformações de São Paulo, um restaurante atravessou séculos, mudanças de endereço e gerações — mantendo acesa a chama da gastronomia italiana.
O Carlino, fundado em 1881, é mais do que o restaurante mais antigo em funcionamento da cidade: é um símbolo de tradição, afeto e memória paulistana.
Das colinas da Toscana ao coração de São Paulo
Tudo começou com o toscano Carlo Cecchini, que abriu o restaurante no Largo do Paissandu, em pleno centro da capital paulista. Sob seu comando, o Carlino tornou-se ponto de encontro de imigrantes, comerciantes e boêmios, que buscavam uma boa taça de vinho e pratos de sabor caseiro. Cecchini permaneceu à frente da casa até 1949, quando outro toscano, Marcello Gianni, assumiu a direção.
Com o avanço do progresso e as transformações urbanas dos anos 1960, o Carlino deixou o Largo do Paissandu e seguiu para a charmosa Avenida Vieira de Carvalho, um endereço que se tornaria ícone da boemia paulistana. Foi ali que o restaurante viveu anos de ouro, servindo artistas, escritores e figuras ilustres. Adoniran Barbosa tinha mesa cativa, e nomes como Fernanda Montenegro e Vera Fischer eram presenças frequentes.
Tradição passada de mãos — e de coração
Em 1978, Marcello Gianni passou o comando para o amigo Antonio Carlos Marino, filho de italianos e apaixonado pela cozinha mediterrânea. Sob sua direção, o Carlino manteve viva a alma toscana, adaptando-se às novas gerações sem perder o sabor da tradição.
A filha de Antonio, Bianca Marino, cresceu entre as mesas do restaurante e, hoje, é a chef de cozinha e sócia da casa. “O prato clássico da cidade de Lucca é o coelho alla lucchese, feito na panela com vinho tinto. Servimos com batata e massa. Também temos pratos com frutos do mar, porque Lucca fica próxima do litoral da Toscana”, conta Bianca, com orgulho de suas raízes.
Três endereços, a mesma essência
Ao longo de sua história, o Carlino mudou de endereço três vezes, mas sempre manteve o coração no centro de São Paulo.
Depois do Largo do Paissandu e da Vieira de Carvalho, a casa reabriu em 2005 na Rua Epitácio Pessoa, na Vila Buarque — uma região que, na época, parecia deserta. “Quando viemos pra cá, não tinha comércio, não tinha nada. As pessoas achavam uma loucura”, relembra Rosana Marino, também sócia.
O tempo provou que estavam certos: hoje, a Vila Buarque é um dos polos gastronômicos mais efervescentes da cidade, com restaurantes modernos e uma atmosfera que mistura tradição e novidade. E lá está o Carlino, firme, com suas toalhas brancas, pratos fumegantes e um atendimento que combina tradição, simpatia e sabor.
Uma história que continua sendo escrita
Clientes fiéis, como Carmem Julia Angeli Pieri, acompanham o restaurante há décadas. “Frequentei o Carlino desde 1960, quando tinha 15 anos. A Vieira de Carvalho era glamourosa, tinha o Almanara, a Dulca… Era outro tempo, e o Carlino sempre foi parte dele”, lembra com emoção.
Mais de 142 anos depois, o restaurante continua sendo um ponto de encontro entre passado e presente — um lugar onde cada prato carrega memórias de gerações, de famílias, de imigrantes que ajudaram a construir São Paulo.
No Carlino, não se vai apenas para comer: vai-se para vivenciar um pedaço da história italiana no coração do Brasil.
Serviço:
Carlino Ristorante
📍 Rua Epitácio Pessoa, 85 – Vila Buarque, São Paulo
🍷 Cozinha: Toscana e mediterrânea
📅 Fundado em 1881


Meninos eles tem insta!? Queria ver o menu!! Interessante, queria provar. O restaurante italiano mais antigo de São Paulo. Obrigada