qui. out 30th, 2025

Brasileiros lideram cidadania italiana em 2024, mas reforma limita 2025

O ano de 2024 se confirma como aquele da ascensão dos ítalo-descendentes sul-americanos no percurso rumo à cidadania italiana, liderados pelos brasileiro. Mas, para 2025, o quadro normativo endurecido pela reforma Tajani pode frear essa tendência.

Após um 2023 que viu o Brasil ocupar o segundo lugar global em número de naturalizações, com cerca de 18.600 aquisições, as estimativas mais confiáveis para 2024 – do Istituto de estatistica (Istat), Ministério do Interior da Itália, registros anagrafe italianos no exterior (Aire) e projeções elaboradas por centros de estudos como a Fondazione Ismu – indicam um aumento para cerca de 20.500 a 21.000 brasileiros naturalizados, representando um crescimento entre 8% e 12% em relação ao ano anterior.

Esse resultado confirmaria a primazia latino-americana nesse campo, impulsionada pela forte presença de ítalo-descendentes no Brasil, na Argentina e no Uruguai, onde se estima que vivam entre 30 e 45 milhões de pessoas com raízes italianas.

No entanto, as previsões para 2025 podem alterar a curva: a recente reforma da cidadania promovida pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, introduz critérios mais rigorosos que podem desacelerar o crescimento, embora a América Latina deva continuar representando um peso demográfico significativo entre os novos cidadãos italianos.

2023: o Brasil atrás apenas da Albânia

Segundo o relatório “Cittadinanze 2023”, publicado pelo Istat em julho de 2024, a Albânia liderou a classificação com cerca de 21.700 novos cidadãos italianos, correspondendo a uma cota ligeiramente superior a 10,9% do total. O Brasil registrou aproximadamente 18.600 naturalizações, consolidando-se em segundo lugar com uma participação de 9,3%, seguido por Marrocos (cerca de 17.000) e Romênia (cerca de 15.000). Esse protagonismo brasileiro está fortemente ligado ao reconhecimento iure sanguinis, ou seja, ao direito de descendência direta de cidadãos italianos que emigraram durante as grandes ondas migratórias do século XX.

Os números também podem ter sido impactados por uma aceleração dos pedidos por parte dos descendentes diante do anúncio da reforma que restringe os critérios. Em 2024, o aumento das solicitações registradas nos consulados italianos no Brasil – especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre – reforçou essa tendência.

O Ministério das Relações Exteriores da Itália assinalou um crescimento significativo nos processos iure sanguinis iniciados no primeiro semestre do ano, enquanto o Istat, em seu Relatório Anual de 2024, destacou o fortalecimento do componente genealógico entre as novas aquisições. As estimativas mais consistentes sugerem que os brasileiros podem chegar a 20.500-21.000 naturalizações em 2024, aproximando-se ainda mais da Albânia, que, segundo algumas projeções, pode superar as 22.000 concessões. Esse dado manteria o Brasil em segundo lugar, com uma cota potencial próxima de 10% do total mundial.

2025: possível desaceleração após a reforma Tajani

O ano de 2025 pode representar um período de transição. A recente reforma da cidadania promovida pelo Ministro dos Assuntos Exteriores Antonio Tajani restringe o acesso ao reconhecimento iure sanguinis. Entre as mudanças mais significativas está a introdução de um limite geracional, permitindo o reconhecimento apenas até a terceira geração (netos de nascidos na Itália), tornando mais difícil e centralizado em Roma o processo para quem possui ascendência mais distante. Essas modificações buscam reduzir margens interpretativas, aumentar a rastreabilidade dos pedidos e conter o efeito “passaporte para a Europa”, frequentemente mencionado em setores do debate político.

As primeiras análises da Fondazione ISMU indicam que, apesar de uma possível desaceleração quantitativa, a América Latina continuará sendo o principal reservatório de potenciais cidadãos elegíveis, mas enfrentará prazos mais longos e maiores barreiras de entrada. De acordo com algumas projeções, a tendência para 2025 pode se estabilizar em relação a 2024 ou apresentar um crescimento mais contido entre 3% e 5%, ainda assim superando a marca de 20.000 casos para o Brasil.

Tendência além da identidade: a Itália como projeto de mobilidade

O fenômeno da cidadania italiana entre os brasileiros não representa apenas uma restituição simbólica de identidade ancestral, mas um verdadeiro projeto de mobilidade social e geográfica. Cada vez mais jovens profissionais brasileiros com origens italianas buscam o passaporte italiano para trabalhar ou estudar na União Europeia, muitas vezes estabelecendo-se em outros países como Portugal, Espanha, Alemanha ou Irlanda. O elevador genealógico transforma-se em elevador econômico, enquanto a Itália presencia o surgimento de uma nova geração de cidadãos formalmente italianos, mas culturalmente transnacionais.

Em conclusão, 2024 pode ser lembrado como um dos últimos anos de plena expansão genealógica antes do endurecimento normativo. O Brasil, mais uma vez, deve se confirmar como protagonista, enquanto a Itália se reencontra num espelho histórico e reconhece seu passado migratório retornando na forma de cidadania “de volta à origem”. Em 2025, os números podem crescer mais lentamente, mas o vínculo entre a Península e suas raízes sul-americanas continuará sendo uma das dinâmicas mais significativas na redefinição futura da identidade nacional.

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