Em Bologna, a pizza volta a ocupar o centro do palco não como simples prato, mas como uma forma de expressão. No pátio do histórico Palazzo Re Enzo, o festival C’è + Gusto realiza a Arena della Pizza nos dias 18 e 19 de outubro, reunindo mestres da massa e curiosos em torno de um tema irresistível: o sabor como patrimônio cultural.
Durante dois dias, pizzaiolos de várias regiões italianas mostram que o disco de massa fermentada pode contar histórias, do Cilento a Roma, de Nápoles a Milão. Cada fermento carrega um território, cada farinha traz uma tradição antiga. A programação mistura palestras, degustações, laboratórios e encontros dedicados tanto à tradição quanto à inovação, reforçando a ideia de que a pizza é um idioma comum a todos os italianos (e aos seus descendentes pelo mundo).
Entre os destaques, o napolitano Vincenzo Fotia, em parceria com o Mulino Caputo, propõe uma oficina de pizza sem glúten: uma nova fronteira do sabor que busca incluir sem abrir mão da textura e do perfume da massa. Em seguida, Francesco Capece, do restaurante milanês Confine-Pizza e Cantina, cria combinações entre pizza e vinhos do Consorzio Vini d’Abruzzo, transformando o que antes era comida de rua em experiência sensorial.
O evento também presta homenagem às tradições migrantes do sul da Itália. Giovanni Mandara, representante da famosa Pizza di Tramonti, relembra a trajetória dos pizzaiolos que levaram o aroma da Costa Amalfitana ao norte do país. Já o grupo GloryPop, de Milão, leva o tema para outro território – o das redes sociais – e mostra como a pizza também é cultura pop, com cores, humor e criatividade urbana.
No domingo, a Arena se transforma num mapa de sabores regionais. Angelo Pezzella reinventa o Pecorino Romano Dop (Denominação de origem protegida) em receitas que unem Lazio e Sardenha. Cristian Santomauro resgata a antiga Ammaccata di Casal Velino (no Cilento) com Ricotta di Bufala Campana Dop, e Alessandro Della Monica apresenta novas técnicas de fermentação para a pizza em pala, símbolo de um sul que dialoga com o contemporâneo. De Roma, o coletivo Spiazzo fecha o dia com uma pizza leve e moderna, fiel à essência da “romanità”.
O encerramento fica por conta de Paolo De Simone e Fabio Di Giovanni, dois viajantes do Mediterrâneo que transformam o forno em instrumento de narrativa. Suas pizzas falam de mar, de terra e de biodiversidade, e de como a Itália, através de um simples gesto de partilhar, continua se reinventando.
A Arena della Pizza é, antes de tudo, uma celebração de um símbolo universal. Em um festival que propõe novas linguagens do gosto, a pizza continua sendo a mais fluente de todas: democrática, afetiva e sempre em fermentação.
Bologna celebra a pizza como cultura viva no festival “C’è + Gusto”

