sex. ago 22nd, 2025

A corrida turística por um passeio de gôndola mais barato

Uma tradição centenária de Veneza, antes reservada quase que exclusivamente aos moradores, está sendo tomada por turistas. As gôndolas de travessia, conhecidas como “traghetti”, se transformaram na mais nova sensação da cidade, graças a uma combinação de dicas online e o desejo dos visitantes por uma experiência autêntica e, principalmente, econômica. O fenômeno, que tem gerado longas filas e transformado a dinâmica local, expõe o eterno conflito entre o turismo massivo e a preservação do estilo de vida veneziano.

Por apenas dois euros, os turistas descobriram que podem atravessar o Grande Canal, economizando uma quantia considerável em comparação com o bilhete de 9,50 euros para o vaporetto, o transporte público mais comum. A diferença de preço, somada às sugestões de rotas do Google Maps e ao entusiasmo de influenciadores digitais, catapultou a popularidade dos traghetti. O que antes era uma solução rápida e eficiente para os venezianos, que pagavam apenas 70 centavos pelo serviço, agora se tornou uma atração turística.

Para os moradores, a situação é motivo de frustração. As filas, que antes eram praticamente inexistentes, agora se estendem pelas ruas estreitas que levam aos cais, tornando difícil o acesso para quem precisa do serviço no dia a dia. Os moradores lamentam a perda do que consideram um serviço público essencial. “Os traghetti viraram a última moda para turistas de baixo orçamento. Quem perde, infelizmente são os venezianos. No entanto, o número de moradores tem diminuído drasticamente e o serviço, se dependesse apenas deles, estaria quase abandonado, o que mostra a dependência da cidade do fluxo turístico.

Em resposta ao crescente movimento e às reclamações, Aldo Reato, vereador responsável pela Promoção de Gôndolas, defende a categoria e a necessidade de adaptação. Reato explica que o serviço é público e, com 23 milhões de visitantes anuais, é natural que a demanda aumente. Ele destaca os esforços para melhorar o atendimento, como a inclusão de mais barcos e horários estendidos em pontos críticos.

Os traghetti, que diferem das gôndolas turísticas por sua aparência mais simples — sem os tradicionais ferros na proa e com dois gondoleiros conduzindo a embarcação —, oferecem uma viagem de poucos minutos. Nelas, os passageiros costumam ficar de pé, vivenciando um rápido e direto pedaço da vida veneziana. O que era um mero meio de transporte, uma parte despretensiosa do cotidiano, agora simboliza o desafio de equilibrar a economia do turismo com a preservação da identidade de uma das cidades mais singulares do mundo.

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