
Imagine um país dividido não por muros ou línguas, mas pela idade. Uma Itália onde a cidade ideal depende se você tem 8, 28 ou 68 anos. Bem-vindo ao ranking 2025 da Qualidade de Vida por Faixa Etária.
No novo estudo apresentado no Festival dell’Economia 2025, com chancela de Il Sole 24 Ore e colaboração da Eumetra e Save the Children, a Itália foi radiografada não por PIB, mas por bem-estar geracional. O resultado? Um pódio quase totalmente do Norte — e um Sul que segue pedindo passagem.
O Norte Brilha: Lar para Vovôs, Jovens e Crianças Felizes
Se envelhecer é inevitável, que seja em Bolzano. A província do Tirol do Sul lidera o ranking da terceira idade com maestria. A receita? Menor consumo de remédios para doenças crônicas, alto investimento social e um detalhe simbólico, mas poderoso: a maior densidade de bibliotecas por habitante.
Para a terceira idade, Bolzano se consagra como o paraíso dos “mais velhos”, a cidade do Tirol do Sul demonstra um compromisso exemplar com o bem-estar da população sênior. Treviso e Trento completam o pódio, reforçando a força da região.
Aos 65 anos, a vida ainda reserva 21,2 anos de expectativa. E, em Bolzano, eles parecem bem vividos.
Já para os jovens entre 18 e 35 anos, Gorizia se destaca pelo segundo ano consecutivo. Capital Europeia da Cultura Transfronteiriça 2025, a cidade universitária e fronteiriça brilha em oportunidades de emprego, transformações de contratos para permanentes e uma das menores idades médias para o primeiro filho (31,6 anos, contra a média nacional de 32,6). Bolzano, Cuneo e Trieste também garantem posições de destaque.
E para os pequenos, Lecce é a escolha ideal. Com um índice invejável em “Esporte e crianças”, excelentes resultados nos testes escolares Invalsi e uma baixa incidência de delitos contra menores, Lecco oferece um ambiente propício para o desenvolvimento infantil. Siena e Aosta também se juntam ao pódio, mostrando que o bem-estar dos mais jovens é uma prioridade em diversas partes do Norte.

O Contraste do Sul e o Dilema das Grandes Cidades
Enquanto o Norte celebra, o Sul do país se vê, em grande parte, nas últimas posições dos rankings geracionais. Trapani figura como a lanterna na pesquisa para idosos, e Caltanissetta para crianças. As províncias do Sul ocupam a maioria das últimas 20 colocações em todos os três índices, revelando uma distribuição desigual do bem-estar.
As cidades metropolitanas, por sua vez, encaram um calcanhar de Aquiles: o alto custo dos aluguéis. Roma, por exemplo, amarga a 107ª posição no índice de juventude, com Nápoles (104ª), Milão (101ª) e Turim (90ª) logo atrás. Nessas grandes cidades, os aluguéis consomem mais de 35% da renda média declarada pelos moradores, um fator que impacta diretamente a qualidade de vida, especialmente dos jovens.
Adolescentes e o Desafio da Autonomia no Mundo Real

Uma pesquisa da Eumetra em colaboração com a Save the Children trouxe à tona um dado intrigante sobre a autonomia dos adolescentes italianos (11 a 15 anos). Embora sejam mestres no universo digital – 78,4% usam tablets/PCs e 80,5% smartphones sem auxílio – a vida “offline” revela uma dependência maior: um em cada três não faz o dever de casa de forma independente e menos de 40% se exercitam sozinhos. No ensino fundamental, a situação se agrava: apenas 33% utilizam transporte público e menos da metade vai para a escola sem acompanhantes.
O estudo também aponta tendências como o aumento no número de pediatras e a melhora nas habilidades numéricas de alunos do ensino fundamental. No entanto, há preocupações: o aumento de alunos com habilidades de alfabetização inadequadas e o crescimento nos crimes contra menores.
Apesar da queda no desemprego juvenil e a estabilidade dos aluguéis para menores de 35 anos, os jovens italianos ainda enfrentam dificuldades para construir seus planos de vida, casando-se menos e registrando uma diminuição nas empresas com proprietários jovens. Para os idosos, enquanto a expectativa de vida aumenta, também cresce o consumo de medicamentos e o número de pessoas com mais de 65 anos vivendo sozinhas.
Essa pesquisa reforça a complexidade do panorama italiano, onde o futuro do país parece estar intrinsecamente ligado à capacidade de replicar o sucesso das regiões do Nordeste e em lidar com os desafios socioeconômicos que ainda persistem em outras áreas.
Qual a sua percepção sobre esses contrastes na qualidade de vida?