seg. jun 9th, 2025

Cresce a pobreza e exclusão social na Itália: Um retrato desolador de desigualdade

ByJornal Itália

22 de maio de 2025

Por trás das ruelas charmosas e dos cenários de cartão-postal, a Itália esconde uma realidade preocupante. Dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (Istat), divulgados nesta quarta-feira, revelam que em 2024, pouco mais de 23% da população italiana – o equivalente a cerca de 13,5 milhões de pessoas – estava em risco de pobreza ou exclusão social. Um aumento de 0,3% em relação ao ano anterior, que acende um alerta sobre as crescentes desigualdades que corroem o tecido social do país.

A pesquisa do Istat lança luz sobre uma dicotomia alarmante. A prosperidade do Norte italiano, muitas vezes celebrada, contrasta drasticamente com a fragilidade do Sul. Nesta última região, o índice de risco de pobreza disparou em um ponto percentual, atingindo alarmantes 39,8% – o que significa que quatro em cada dez habitantes do sul da Itália se encontram em uma situação vulnerável. Essa disparidade geográfica expõe as profundas cicatrizes de um desenvolvimento desigual.

Os rostos da vulnerabilidade

O Istat define o risco de pobreza ou exclusão social com base em três pilares: ter uma renda abaixo de 60% da média nacional, sofrer privação material severa (como a incapacidade de arcar com despesas básicas, aquecimento adequado ou mesmo uma semana de férias anuais), ou apresentar um baixo nível de “intensidade de trabalho”, que indica lares onde os adultos trabalham menos de 20% do tempo disponível. Essa última métrica aponta para a precarização do mercado de trabalho, que empurra famílias inteiras para a linha da subsistência.

A fragilidade social se acentua em grupos específicos. Famílias em que o principal provedor tem menos de 35 anos viram o risco de pobreza saltar de 28,4% em 2023 para 30,5% em 2024. Além disso, eventos inesperados como a dissolução de uma união ou a morte de um membro da família podem se tornar gatilhos para a queda econômica, evidenciando a falta de redes de segurança robustas para os cidadãos.

Recuperação econômica versus pobreza recorde

Apesar de uma recuperação econômica pós-pandemia que superou vizinhos como Alemanha e França, e de um aumento no emprego, a pobreza absoluta na Itália atingiu um novo recorde em uma década. Isso levanta questionamentos sobre a efetividade das políticas sociais e a distribuição da riqueza gerada. O subsídio “Renda de Cidadania”, que em 2019 ajudou um milhão de famílias a sair da pobreza, foi drasticamente limitado e substituído por um benefício mais restrito, impactando diretamente os mais vulneráveis.

Dados adicionais da Eurostat e outros relatórios do Istat reforçam essa visão sombria. Embora a privação material severa tenha apresentado uma leve queda em 2024, para 8,5% da população – provavelmente por bônus governamentais pontuais –, a proporção de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social continua a crescer. A pobreza no trabalho também se agrava, especialmente para autônomos e para aqueles com contratos temporários, evidenciando uma estrutura de emprego que precariza grande parte da força de trabalho.

A questão da desigualdade de renda é igualmente alarmante: o Istat aponta que, em 2023, os 20% mais ricos da Itália ganhavam 5,5 vezes mais que os 20% mais pobres, um aumento em relação a 2022. O índice de Gini, que mede a desigualdade, subiu, com picos ainda maiores no Sul.

A Itália, que tanto encanta com sua cultura, história e beleza, é confrontada com uma realidade que exige atenção urgente. Os números do Istat não são apenas estatísticas; eles representam milhões de vidas em dificuldades, um clamor por políticas mais eficazes e um compromisso real com a equidade. A beleza da Itália, afinal, deve se estender a todos os seus cidadãos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *