Neste mundo tão acelerado, onde telas piscam sem parar e tudo parece urgente, ainda existe um lugar onde o tempo desacelera. Um lugar onde o cheiro do alho dourando no azeite tem o poder de nos levar de volta à cozinha da infância, e onde cada garfada carrega um pedaço doce da nossa própria história. Esse lugar é o coração do projeto La Cucina delle Nonne, criado pelo Convita, que há anos transforma o simples ato de cozinhar em um encontro de afeto, identidade e memória.
Nos últimos dias, o projeto encerrou seu calendário anual com a delicadeza de sempre e com a certeza de que, quando a vida fica complexa demais, é à mesa que reencontramos o que realmente importa.
Nascido em 2021, em plena pandemia, o La Cucina delle Nonne surgiu como um abraço possível. Virtual no início, oferecia o consolo que faltava quando as distâncias físicas pareciam intransponíveis. Foi assim, pela tela, que as primeiras histórias começaram a ser contadas e os primeiros cheiros começaram a ser lembrados.
Desde então, a dinâmica é simples e ao mesmo tempo encantadora: a cada edição, uma nonna ou nonno convida todos a entrar, mesmo que virtualmente em sua cozinha, compartilhando uma receita de família e as lembranças que a acompanham. São memórias de infância, segredos guardados no fundo das panelas, tradições que viajaram em malas de imigrantes e atravessaram décadas.
Com o tempo, os encontros se tornaram híbridos e ganharam o Brasil e até outros países. A mesa se expandiu. Filhos, netos, sobrinhos, amigos distantes: todos passaram a participar, assistir, comentar e sentir que estavam ali, pertinho, celebrando a mesma história.
A última edição do ano foi um desses momentos em que a casa parece pequena para tanto afeto. A presença da Nonna Ana Maria Bianconi iluminou o encontro, que rapidamente superou o esperado de público — um sinal vivo da força que o projeto conquistou.
Com a serenidade de quem já viveu muitas cozinhas, ela ensinou o preparo do seu Espaguete ao Molho Mediterrâneo. Uma receita leve, fresca, quase uma declaração de amor à simplicidade. A escolha combinou perfeitamente com a chegada da De Cecco, nova parceira do projeto, que patrocinou o encontro. A afinidade foi tão espontânea que, entre uma risada e outra, nasceu até uma segunda receita: um improvisado e delicioso Espaguete ao Pesto, feito ali mesmo, com os ingredientes trazidos pela marca. Na cozinha da nonna sempre cabe mais um – inclusive mais um prato.
Mas o La Cucina delle Nonne vai muito além das receitas. Ele reconhece e celebra o imenso valor sociocultural da pessoa idosa. Entende que a mesa é um território de identidade e memória, um lugar onde histórias ganham voz e o envelhecimento se mostra pleno, ativo, precioso. A metodologia do projeto abraça cada participante por inteiro; corpo, alma, lembranças e valoriza a riqueza cultural da culinária ítalo-brasileira, além das tantas outras raízes que formam nossa diversidade.
Esse cuidado já rendeu frutos importantes. Em 2022, o projeto recebeu destaque especial no Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade. Em 2024, viveu um dos encontros mais emocionantes de sua trajetória ao aproximar gerações no Colégio Dante Alighieri, onde estudantes aprenderam com a nonna Teresa Meale a preparar Cantuccini e descobriram que tradição e afeto são ingredientes inseparáveis.
E vem mais por aí. Em 2025, será lançado o livro “Cozinha com afeto: sabores que contam histórias”, criado em parceria com o Dante Alighieri. Uma coletânea de receitas e memórias que passaram pelo projeto, como quem abre um álbum de fotos e encontra ali o cheiro e o gosto de uma vida inteira (em breve no site do Convita)
A história recente do La Cucina delle Nonne também ganhou novos companheiros de jornada: uma generosa doação da Italia per San Paolo e a celebração da parceria com a De Cecco, além da aprovação pela Lei Rouanet, que abre portas para expandir e dar ainda mais vida a essa iniciativa tão necessária.
O futuro do projeto é tão promissor quanto um prato servido quentinho, no momento exato em que todos se sentam à mesa.
Porque o La Cucina delle Nonne nunca foi só sobre culinária. É sobre gente. Sobre tempo. Sobre olhar para alguém e dizer, sem palavras, “senta aqui comigo”.
E talvez seja por isso que, em cada receita compartilhada, existe também um convite silencioso: o de celebrar a vida, revisitar memórias e redescobrir o conforto de estar junto.
Porque cozinhar assim como amar é sempre um ato de partilha. E é essa partilha que transforma simples ingredientes em lembranças inesquecíveis.
