A economia italiana entra em 2025 e 2026 com um ritmo mais calmo, mas ainda confiante, movida por consumo interno, investimentos robustos e uma vocação internacional que continua sendo o seu maior trunfo. Em um cenário global de incertezas – tarifas dos Estados Unidos, desaceleração chinesa, reacomodação do comércio mundial – o país se prepara para crescer 0,5% em 2025 e 0,8% em 2026, segundo as mais recentes projeções oficiais inseridas no estudo do Istituto nacional de estatística (Istat).
O dado curioso é que esse avanço vem quase totalmente de dentro: das famílias que voltam a consumir, das empresas que ampliam investimentos, do mercado de trabalho que continua aquecido. Já o setor externo, que tradicionalmente empurra a economia italiana para frente, desta vez trabalha com vento contrário. Importações mais dinâmicas, euro valorizado e volatilidade nas regras comerciais internacionais colocam pressão sobre as exportações. Ainda assim, a Itália segue defendendo seu espaço no mundo, inclusive na América Latina.
Mesmo com o comércio global crescendo menos, as empresas italianas permanecem competitivas. Em 2025, as exportações devem aumentar de forma moderada (+0,8%), com aceleração em 2026 (+1,6%). A demanda estrangeira é mais cautelosa, mas o Made in Italy continua forte justamente onde a autenticidade, o design e a alta qualidade são mais valorizados, como na América Latina.
O Brasil, maior economia da região, permanece entre os mercados mais estratégicos. A forte presença ítalo-brasileira, o avanço do e-commerce, o crescimento do mercado de luxo e o interesse crescente por produtos de origem certificada fazem do país um destino natural para vinhos, maquinário industrial, moda, tecnologia agro e bens de consumo premium.
A esperada aprovação do acordo comercial entre União Europeia com o Mercosul abre ainda mais possibilidades. Qualquer redução de barreiras tarifárias teria impacto direto nos setores em que a Itália é líder, fortalecendo cadeias produtivas e incentivando investimentos cruzados.
As famílias italianas começam lentamente a abrir a carteira. Para 2025 e 2026 a expectativa é de aumento no consumo privado (+0,8% e +0,9%), impulsionado por melhora do emprego, salários um pouco mais altos (mesmo ficando entre os mais baixos da Europa) e inflação em queda (1,7% em 2025 e 1,4% em 2026). Com preços mais estáveis, o poder de compra volta a respirar.
Outro motor importante é o avanço dos investimentos. Depois de um 2024 mais tímido, 2025 promete aceleração (+2,8%), seguida de novo crescimento em 2026 (+2,7%). Grande parte desse impulso vem das obras financiadas pelo Pnrr, o megaprograma europeu de recuperação que está modernizando infraestrutura, digitalização, sustentabilidade e inovação. Esse ambiente favorece também setores ligados à exportação, já que empresas mais tecnológicas e competitivas conseguem responder melhor às mudanças globais — inclusive às oportunidades na América Latina.
O emprego continua crescendo acima do PIB, mostrando uma economia vibrante: +1,3% em 2025, +0,9% em 2026 com a taxa de desemprego que deve cair para 6,1%. Setores como construção civil, serviços e trasformação sustentam a oferta de vagas, embora os salários ainda recuperem parte do poder perdido nos últimos anos.
O quadro geral é de um país que cresce devagar, mas cresce bem, com bases internas sólidas e forte capacidade de adaptação. No horizonte externo, a chave será transformar desafios comerciais em novas rotas. E poucas regiões oferecem tantas portas abertas quanto o Brasil e seus vizinhos.
A afinidade cultural, a presença histórica da comunidade italiana e o interesse crescente por produtos de qualidade criam um terreno fértil para ampliar relações econômicas, parcerias industriais e trocas tecnológicas. Se o mundo muda, a Itália muda junto e continua olhando para o Atlântico Sul como uma das suas rotas mais promissoras.
Itália projeta crescimento moderado e mira novos horizontes globais (e o Brasil)

