Todo Natal, quando o ar começa a cheirar a frio e luzes acesas, volta para mim uma lembrança que pertence só à minha infância.
Uma lembrança que tem cheiro de casa, de família… e de um pinheiro enorme.
Meu pai sempre chegava com a árvore mais grande que conseguia encontrar, convicto de que “esse ano vai caber, você vai ver”.
E, como sempre, não cabia. Era alta demais, larga demais, viva demais.
Ainda lembro dele tentando fazê-la entrar pela porta, inclinando o tronco para um lado, depois para o outro, enquanto o cheiro da resina invadia todo o apartamento pequeno.
Eu ria, com aquela leveza que só as crianças têm, e minha mãe balançava a cabeça fingindo reclamar… mas no fundo, era exatamente isso que ela esperava.
Porque meus pais tinham um dom: sempre conseguiam tornar o Natal especial.
Mesmo quando tudo era simples, mesmo quando não havia grandes presentes, mesmo quando a vida não era perfeita.
Sempre chegava o momento em que, depois de finalmente colocar a árvore de pé (ou adaptar a casa à árvore), nós três mais meu avo ficávamos olhando para ela.
Era nossa.
Era grande — sempre grande demais — como os sonhos que só a família sabe dar às crianças.
Hoje, quando o Natal traz novos desafios e um caminho pessoal feito de quedas e recomeços, essa lembrança fala comigo mais do que nunca.
Ela me lembra que a vida, às vezes, é como aquele pinheiro: incômoda, difícil de encaixar, imprevisível.
Mas com amor, paciência e um pouco de criatividade… sempre encontra seu lugar.
E talvez seja exatamente esse o significado que eu quero dar ao Natal deste ano: renascimento.
Colocar as coisas no lugar, abrir espaço dentro de mim, acolher o que chega mesmo quando parece grande demais.
E lembrar que, apesar de tudo, ainda existe aquela luz que meus pais acendiam sem fazer barulho.
Este ano, meu renascimento começa assim: com o cheiro de um pinheiro grande demais, com o sorriso do meu pai lá no céu e cuidando silencioso minha mãe em carinho de roda.
Com a certeza de que, mesmo quando a vida não entra pela porta na primeira tentativa, sempre vale a pena tentar de novo.

