ter. nov 4th, 2025

As portas eternas: as três portas de Roma que continuam se abrindo há dois mil anos

Em Roma, há portas que não se limitam a contar a história — elas ainda a fazem acontecer. São passagens que, depois de dois mil anos, ainda se abrem e se fecham de verdade, como se o Império nunca tivesse acabado. Em toda a Cidade Eterna, existem apenas três dessas portas antigas: duas permanecem no seu lugar original, e uma foi transplantada, mas continua viva, respirando o mesmo bronze de antigamente.

O sopro do Panteão

No coração da Piazza della Rotonda, as portas do Panteão são talvez as mais célebres do mundo antigo ainda em funcionamento. Feitas de bronze maciço durante o reinado de Adriano, por volta do século II d.C., cada uma pesa várias toneladas e ainda gira sobre seus antigos eixos, depois de uma cuidadosa restauração nos anos 1990.

Ao atravessá-las, entra-se em um espaço que não pertence a época alguma em particular: um templo pagão transformado em igreja, mas que manteve intacto o seu espírito. Cada vez que aquelas folhas de bronze se abrem, ouve-se o ranger metálico de um tempo que ainda respira.

O mistério do Templo de Rômulo

No Fórum Romano, não muito longe da Basílica de Maxêncio, outra porta — mais discreta, mas igualmente extraordinária — continua cumprindo seu papel há quase dezessete séculos. É o portão de bronze do Templo de Rômulo, construído no início do século IV d.C., talvez dedicado ao filho do imperador Maxêncio.

A porta, emoldurada por colunas de pórfiro e coroada por um arco perfeitamente preservado, ainda hoje se abre com o mecanismo original de tranca e dobradiças. Não é apenas uma passagem: é um fragmento de engenharia romana que jamais deixou de funcionar. Atrás dessas folhas, encontra-se hoje a igreja dos Santos Cosme e Damião, onde o tempo pagão e o tempo cristão convivem sem conflito.

A viagem das portas da Cúria

O terceiro par de portas romanos sobreviventes teve outro destino. Eles nasceram como entrada da Cúria Júlia, sede do Senado Romano fundada por César e concluída por Augusto. No século XVII, o papa Alexandre VII decidiu transferi-los para o portal central da Basílica de São João de Latrão, onde permanecem até hoje.

Quando se abrem nas grandes cerimônias litúrgicas, aquelas antigas folhas de bronze criam uma ponte entre dois mundos: o da República e o da Cristandade. Nenhum outro objeto em Roma pode afirmar ter guardado, por dois milênios, as palavras dos senadores e, séculos depois, as orações dos fiéis.

Três portas, uma só cidade

Em meio a um mar de ruínas e reconstruções, apenas três portas antigas de Roma continuam se movendo. O Panteão, o Templo de Rômulo e as portas da Cúria — hoje no Latrão — são mais do que relíquias: são máquinas do tempo em funcionamento.
Cada vez que seus batentes se abrem, também se abre a memória de uma cidade que nunca fechou suas portas para a história.

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