dom. dez 14th, 2025

O retorno do Tibre: Roma redescobre seu rio entre navegação, banho e renascimento urbano

Há um fio d’água que atravessa a história de Roma há três mil anos. É o rio Tibre, pai e testemunha da Cidade Eterna, protagonista silencioso de impérios e revoluções, confidente de poetas, pintores e peregrinos. Um dia, foi via de vida, comércio e beleza; nas últimas décadas, porém, tornou-se uma fronteira esquecida — um cenário urbano mais do que um coração pulsante. Agora, algo está mudando: Roma quer voltar a viver o seu rio, e não apenas observá-lo de longe.

Um rio que fez a história

Com seus 405 quilômetros, o Tibre é o terceiro rio mais longo da Itália e o primeiro em importância simbólica. Das lendas de Rômulo e Remo ao poder do Império Romano, das barcas medievais aos barcos que transportavam vinho e azeite até o século XIX, suas águas sempre acompanharam a vida dos romanos.

Depois, a modernidade o afastou: margens elevadas para conter cheias, pontes sobrecarregadas, e margens esquecidas. O rio que antes era uma via vital de comunicação tornou-se uma barreira física e simbólica entre a cidade e si mesma.

O grande retorno: o Tibre navegável

Hoje, a Região do Lácio e a Prefeitura de Roma têm um sonho: tornar o Tibre novamente navegável, do coração da cidade até o mar. O projeto, apresentado durante o Tevere Day em 8 de outubro, pretende criar um sistema fluvial moderno, turístico e sustentável, conectando Ponte Milvio a Fiumicino, passando pelos lugares mais icônicos da capital.

A proposta prevê quatro rotas de navegação, com pontos de embarque e desembarque estratégicos:
• De Ponte Milvio a Castel Giubileo;
• Da Ilha Tiberina a Ponte Duca d’Aosta;
• De Magliana a Porto di Ripa Grande;
• E, por fim, de Magliana até a foz no Tirreno, passando por Óstia Antiga e o Porto de Trajano.

O plano inclui barcos turísticos, linhas fluviais para estudantes e trabalhadores, além de um sistema de atracadouros que valorize parques e áreas públicas já existentes, como o Parco Tiberis, a Riva Ostiense e o Parco Marconi.

Um projeto complexo, mas visionário

Transformar o Tibre em uma via navegável não é tarefa simples. Obstáculos naturais — bancos de areia, corredeiras, detritos e pontes baixas — exigem dragagem e manutenção periódica. Além disso, há restrições urbanísticas, arqueológicas e hidráulicas, que requerem coordenação entre o Ministério dos Transportes, a Região, a Prefeitura, a Capitania dos Portos e a Autoridade de Bacia.

Mas a visão é clara: transformar o Tibre em uma “via azul” sustentável, integrada ao transporte público romano, capaz de reduzir o trânsito e a poluição, oferecendo aos cidadãos uma nova maneira de viver a cidade.

“Queremos devolver o Tibre aos romanos”, declarou o secretário regional de Transportes Fabrizio Ghera, “com projetos que unam mobilidade sustentável, turismo e preservação ambiental. Roma deve alcançar o nível das grandes capitais europeias, onde os rios são espaços de vida e movimento”.

Tibre para banho: o sonho de 2033

Além da navegação, uma outra meta está em curso: tornar o Tibre apropriado para banho até 2033, em ocasião do próximo Jubileu extraordinário.
É um objetivo ambicioso, que passa pela melhoria da qualidade da água, controle dos despejos e depuração contínua. Já foi criado um grupo técnico interinstitucional, com participação da Prefeitura, da Região, do Ministério do Meio Ambiente, da ARPA e de universidades, para definir um cronograma detalhado.

A secretária do Meio Ambiente, Sabrina Alfonsi, definiu o plano como “um sonho concreto”:
“Temos grandes estudos e dados. Queremos que o Tibre volte a ser um lugar de encontro, esporte e bem-estar. Poderia tornar-se balneável para o Jubileu, dando a Roma um renascimento ecológico sem precedentes.”

Limpeza, segurança e novos parques

O Plano Estratégico do Tibre, aprovado pelo governo municipal, prevê mais de 800 intervenções de curto, médio e longo prazo. Já estão disponíveis 50 milhões de euros, provenientes de fundos do PNRR e do Jubileu, destinados a oásis naturais, percursos arqueológicos e áreas de lazer infantil.

Entre os projetos mais significativos
•   Novos parques com vista para o rio, que passarão de 5 para 9;
•   A recuperação da antiga fábrica Mira Lanza, que se tornará uma residência estudantil;
•   O novo Parque Papareschi, ligado à Ponte da Ciência;
•   O terraço panorâmico do Aventino, já financiado;
•   E a valorização do Caminho Pasolini e do Parque do Dragão, em Dragona.
Um rio reencontrado

Não é apenas um projeto urbanístico, mas uma revolução cultural. Durante anos, o Tibre foi ignorado, poluído, abandonado. Hoje, graças ao empenho de associações, cidadãos e instituições, ele volta ao centro da vida romana.

“A redescoberta do Tibre nasce dos cidadãos”, lembrou o secretário do Meio Ambiente Maurizio Veloccia. “Das pessoas que denunciaram, limparam e agora constroem, junto com as instituições, uma nova identidade para o rio.”

Navegável, limpo, talvez balneável: o Tibre não é mais apenas uma lembrança de glórias antigas, mas um projeto de futuro.
Um futuro em que Roma poderá finalmente se refletir novamente em seu rio e reconhecer-se, como antigamente, uma cidade de água e de luz.

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