Pouca gente sabe, mas até a década de 1950 era possível entrar na famosa esfera dourada que coroa a cúpula de São Pedro, entre o céu e a cruz que domina a praça do Vaticano. Uma experiência única que permitia a turistas e curiosos contemplar Roma a partir de um ponto absolutamente extraordinário, hoje inacessível.
A “bola da cúpula” não é apenas um ornamento: trata-se de uma grande esfera oca de bronze, revestida de ouro, que de longe parece minúscula, mas que na realidade podia abrigar até vinte pessoas, doze com certo conforto. O acesso se fazia a partir da loggia do Lanternino: uma escada de seis metros levava a um estreito corredor de apenas 80 centímetros, que conduzia ao interior da esfera. Lá dentro, quatro fendas abertas nos pontos cardeais ofereciam uma vista inesquecível: toda Roma aos pés do visitante.
Crônicas do século XIX relatam episódios curiosos. O escritor francês De Lorbac, em suas Passeggiates curiose per Roma, conta sobre um turista alemão robusto que ficou preso ao tentar entrar. Já o americano William M. Gillespie, que esteve ali em 1844, descreveu a sensação de precariedade:
«O guia dizia que cabiam dezesseis pessoas. Mas, apenas com dois amigos, a esfera já balançava ao vento e parecia ceder sob o nosso peso. Instintivamente tememos que a fina chapa pudesse se romper e despencar de mais de quatrocentos pés de altura. Não permanecemos muito tempo lá dentro…».
A esfera, composta por cinquenta placas de bronze recobertas de ouro (a douração foi redescoberta em 2005 pelos “sanpietrini” durante um restauro), foi colocada em 1593 por Giacomo della Porta, encarregado pelo papa Clemente VIII de concluir a cúpula deixada inacabada por Michelangelo. No interior, foram encontrados gravados os nomes do arquiteto ticinese e de seu filho Paolo.
O espaço recebeu visitantes ilustres: em 1845, Gregório XVI chegou a oferecer um refresco na esfera ao czar Nicolau da Rússia. O último papa a entrar ali foi Pio IX, na noite de 28 de junho de 1847, véspera da festa de São Pedro e São Paulo.
O vaticanista Silvio Negro, no livro Vaticano minore (1936, Prêmio Bagutta), descreveu assim a experiência:
«Quem chega lá encontra uma atmosfera quente e úmida, em um ambiente redondo de dois metros de diâmetro, marcado por fendas que permitem espiar Roma lá do alto».
Por razões de segurança e para não comprometer a estabilidade da cúpula, desde os anos 1950 a grande esfera dourada não é mais acessível. Hoje, resta apenas a lembrança fascinante: a possibilidade, única e irrepetível, de contemplar a Cidade Eterna do coração da própria Cúpula.




