A tranquilidade da madrugada romana foi abruptamente interrompida por uma cena surreal: um idoso de 80 anos, ao volante de um Mercedes Classe A preto, invadiu a Scalinata di Trinità dei Monti, um dos símbolos mais reverenciados e fotografados da capital italiana. O insólito “passeio” automobilístico pela escadaria de quase 300 anos ocorreu por volta das 4h30 (horário local), deixando moradores e autoridades perplexos diante da audácia e do potencial dano ao patrimônio histórico.
Segundo relatos da polícia local, o veículo surgiu no topo da escadaria, na Piazza Trinità dei Monti, e começou a descer os icônicos degraus de travertino em direção à movimentada Piazza di Spagna. A cena, digna de um filme, foi presenciada por poucos transeuntes e rapidamente ganhou as redes sociais após os primeiros registros fotográficos e vídeos amadores.
O percurso improvisado do Mercedes pela escadaria, que conta com 135 degraus artisticamente dispostos, foi interrompido na metade do caminho. O carro, visivelmente danificado na parte inferior pela fricção com as pedras irregulares, ficou preso, impedindo sua progressão e bloqueando parcialmente a passagem.
Detenção sem resistência e mistério sobre a motivação
A polícia municipal de Roma chegou rapidamente ao local e encontrou o idoso, aparentemente calmo, mas desorientado ao volante. Ele foi detido sem oferecer resistência e encaminhado para a delegacia para prestar esclarecimentos. Surpreendentemente, o teste de bafômetro realizado no local resultou negativo, descartando a influência de álcool como fator determinante do incidente.
A motivação por trás da inusitada “descida” da escadaria permanece um mistério. As autoridades investigam diversas hipóteses, desde um possível mal-estar súbito do condutor, levando à perda de controle do veículo em uma rua adjacente que dá acesso ao topo da escadaria, até uma possível confusão ou ato de vandalismo. A idade avançada do motorista levanta questões sobre sua capacidade de discernimento no momento do ocorrido.
Operação de resgate complexa e avaliação de danos
A remoção do Mercedes preso na escadaria exigiu uma operação delicada e meticulosa do Corpo de Bombeiros de Roma. Utilizando um guindaste de grande porte e equipamentos especiais, os bombeiros içaram cuidadosamente o veículo, evitando maiores danos à estrutura histórica. A operação, que durou várias horas, atraiu a atenção de curiosos e da imprensa, que registraram cada etapa do resgate.
Após a remoção do carro, técnicos da Superintendência Especial para Bens Arqueológicos, Belas Artes e Paisagem de Roma realizaram uma inspeção detalhada da escadaria. As primeiras avaliações indicam que, apesar do impacto e do peso do veículo, os danos aparentes são relativamente superficiais, consistindo principalmente em arranhões e lascas em alguns degraus de travertino. No entanto, uma análise mais aprofundada será realizada nas próximas horas para garantir que não haja danos estruturais ocultos.
Este não é o primeiro incidente envolvendo veículos e a emblemática Scalinata. Em maio de 2022, um empresário saudita tentou descer a escadaria com um luxuoso Maserati, causando danos significativos a alguns degraus. Na ocasião, o responsável foi identificado e obrigado a arcar com os custos de restauração, estimados em cerca de 50 mil euros.
Esses episódios recorrentes levantam sérias questões sobre a necessidade de reforçar a segurança e a proteção em torno de monumentos tão preciosos. A Scalinata di Trinità dei Monti, com sua rica história e beleza arquitetônica, é um Patrimônio Mundial da UNESCO e um local de grande fluxo turístico. A vulnerabilidade desses sítios históricos a atos de descuido, imprudência ou vandalismo exige uma atenção constante por parte das autoridades para evitar que danos irreparáveis sejam causados.
Enquanto a polícia romana segue investigando as circunstâncias exatas que levaram o idoso de 80 anos a transformar a Scalinata em uma via de trânsito improvisada, o incidente serve como um lembrete da fragilidade do patrimônio cultural e da importância de medidas preventivas para sua preservação. A imagem do Mercedes preto incrustado nos degraus da Trinità dei Monti certamente entrará para a anedota da história romana, mas também reacende o debate sobre como proteger de forma mais eficaz os tesouros históricos da “Cidade Eterna”.

