Com a chegada do verão europeu e o esperado fluxo de turistas, a charmosa Gallipoli, na região de Salento, introduziu uma medida que promete mudar a paisagem do seu centro histórico. A partir de agora, caminhar de maiô, biquíni ou sem camisa em áreas centrais não será mais tolerado, visando garantir o decoro e o respeito aos espaços públicos. A medida, válida até 30 de setembro de 2025, já está gerando debates e reações.
A portaria municipal, formalizada pela Ordinanza n. 217 de 3 de junho de 2025, e assinada pelo prefeito Stefano Minerva, proíbe especificamente o uso de trajes de banho no centro histórico, na Corso Roma e em sedes municipais. Além disso, o acesso a espaços públicos institucionais com shorts e camiseta regata também está vedado. A única exceção são, claro, as áreas de banho designadas.
Por que a mudança? Um pedido dos moradores e a luta pelo decoro urbano
A decisão vem em resposta a um crescente número de denúncias de moradores e comerciantes, que se sentiam incomodados com a banalização dos espaços urbanos. Imagens de turistas de biquíni ou sem camisa circulando por ruas históricas e bancas de souvenirs chamaram a atenção, sendo consideradas incompatíveis com as regras mínimas de educação e respeito que se esperam em espaços públicos. “Não se trata apenas de mal costume, mas de costume fora de lugar”, afirmou uma fonte ligada à prefeitura, justificando que a “invasão estival de abdômens nus e roupas de praia no centro é considerada oficialmente ‘prejudicial ao decoro e à vivibilidade urbana'”.
Embora a medida não seja uma novidade absoluta – restrições semelhantes já foram implementadas em verões passados –, sua entrada em vigor foi antecipada este ano devido ao grande volume de relatos e pedidos de intervenção. A prefeitura enfatiza que o objetivo é encontrar um equilíbrio entre a liberdade individual dos turistas e o direito dos moradores de não presenciar “cenas de praia” dentro do tecido urbano.
O contexto legal: Decoro urbano na Itália
A base legal para a nova regra reside na autonomia dos municípios para emitir decretos de proteção ao decoro urbano, amparada por legislações como o Art. 50 do D. Lgs. 267/2000, que permite aos prefeitos emitir providências urgentes para garantir a segurança e a vivibilidade urbana. Curiosamente, fontes locais indicam que o próprio “Decreto Salvini” (D.L. 113/2018), voltado para questões de ordem pública, também é invocado, elevando o “bikini” a uma questão de interesse nacional.
As sanções: Multas para infrações no vestuário e no trânsito

A desobediência à portaria pode acarretar em multas que variam de 25 a 125 euros. Essa sanção estará em vigor durante toda a temporada de verão. A fiscalização será realizada pelas forças da ordem e pela polícia local, com o foco em garantir o respeito à etiqueta urbana.
Mas as restrições não param por aí. O Código da Estrada italiano também entra em cena, especialmente para quem decide dirigir usando trajes de praia. O artigo 141 exige que o condutor mantenha controle total do veículo. Isso significa que dirigir com chinelos, pantufas de praia ou descalço pode resultar em infração se for considerado um elemento de perigo, com multas que podem variar entre 42 e 173 euros, dependendo da avaliação do agente. Em situações mais graves, até mesmo as seguradoras podem se recusar a indenizar um motorista se for comprovado que o acidente foi causado por calçado inadequado.
Repercussão e precedentes em outras cidades italianas
A medida em Gallipoli, conhecida como a “Pérola do Jônico” e um dos destinos mais procurados por jovens e viagens de formatura na Itália, não está isenta de discussão. Enquanto moradores e comerciantes clamam por mais decoro, alguns temem que as restrições possam afetar a percepção de Gallipoli como um destino de “turismo sem véus”, gerando desconforto entre os visitantes que buscam a leveza do verão.
No entanto, Gallipoli não é a única cidade italiana a adotar tais restrições. Várias outras localidades costeiras e históricas já implementaram proibições semelhantes, buscando proteger seu patrimônio e a qualidade de vida local. Exemplos incluem Portofino, Ischia (no borgo de Sant’Angelo), Tropea, Santa Margherita Ligure, Rapallo, Lignano Sabbiadoro, Viareggio, e até Trieste, que estuda medidas similares para seu centro histórico. Em Santa Margherita Ligure, por exemplo, as multas podem chegar a 500 euros, e em Rapallo, a 50 euros para quem anda descalço ou sem camisa. Essas iniciativas reforçam uma tendência crescente de municípios italianos em equilibrar a liberdade turística com a preservação do decoro urbano.
Com essas novas regras, Gallipoli busca manter seu charme histórico, seu espírito acolhedor e garantir uma convivência mais harmoniosa entre moradores e os milhares de turistas que a visitam anualmente. Ao planejar sua próxima viagem a esta joia italiana, lembre-se de adaptar seu guarda-roupa ao ambiente urbano para evitar surpresas e desfrutar plenamente de tudo que Gallipoli tem a oferecer.
