Existem cidades que competem pelo olhar do visitante, e existem aquelas que conquistam justamente por não tentar. Vicenza pertence à segunda categoria. É um museu a céu aberto que não exige aplausos; oferece beleza sem esforço, quase com timidez, como se soubesse que quem realmente vê não precisa de explicações. Por que seguimos correndo para Veneza quando, tão perto, existe uma cidade que oferece arte, história e silêncio na medida certa? Talvez porque a verdadeira elegância jamais disputa espaço.
A cidade é o palco natural da visão de Andrea Palladio, que transformou a arquitetura europeia com a precisão de um poeta. A Basílica Palladiana parece respirar diante de quem a observa. A loggia branca, os arcos perfeitos, o telhado de cobre que lembra o casco de um navio virado… tudo conversa entre si com uma harmonia que acalma. E da sua varanda, Vicenza se revela inteira, como quem finalmente decide confiar em você.
No Teatro Olímpico, o encantamento muda de tom. É impossível entrar ali e não sentir o peso do tempo e o brilho da genialidade. Palladio não viu sua obra concluída, mas seu espírito percorre cada detalhe das perspectivas de madeira, que ainda parecem vivas. Um teatro assim mereceria filas quilométricas, mas continua íntimo, quase secreto. Talvez seja isso que o torna tão especial.
Um pouco além do centro, a Rotonda aparece como um gesto perfeito. Quatro lados idênticos, uma cúpula que conversa com o céu, silêncio por todos os lados. É impossível não pensar: como algo tão simples pode ser tão sublime?
Vicenza segue com suas ruas onde história e cotidiano se misturam com naturalidade. Na Piazza dei Signori, a Torre Bissara marca o tempo não para apressar, mas para lembrar que cada instante tem valor. A melodia da “nona hora”, tocada seis minutos antes do meio-dia e das 18h, parece uma forma delicada de pedir que aproveitemos melhor o momento.
E como se conhece uma cidade sem prová-la? O baccalà alla vicentina é uma história cozida lentamente. Os bigoli com ragù de pato têm aquele gosto de tradição que não muda com o tempo. Os risotos seguem o ritmo das estações. Os salames, os queijos, os vinhos dos colli Berici… tudo chega com honestidade, sem espetáculo.
Os lugares para sentir essa essência são muitos, mas alguns se tornam memórias. O Bar Borsa, de frente para a Basílica, onde um simples aperitivo vira uma pequena cerimônia. O histórico Il Ceppo, onde a gastronomia vicentina encontra sua expressão mais fiel. O Evì, com seus “spunciotti” perfeitos para uma taça de vinho. E o Osteria Veneto’s, que traduz a tradição local com respeito quase devoto.
No fim, a pergunta permanece: como uma cidade assim ainda não está entre os destinos mais desejados? Talvez porque Vicenza não quer impressionar. Quer tocar. E isso, quando acontece, não passa mais.



