sex. ago 22nd, 2025

Um banquete de descobertas: o que os pompeianos realmente comiam?

Há lugares que contam histórias, e há lugares que as sussurram com tamanha nitidez que quase se ouve o tilintar de talheres sobre a cerâmica. Pompeia pertence ao segundo grupo. Soterrada num único dia de 79 d.C., quando o Vesúvio se vestiu de fúria, a cidade foi congelada no tempo — e desde o século XVIII, quando voltou à luz, não parou de falar. Suas paredes pintadas, mosaicos, ruas e ossos revelam gestos, costumes, tragédias. Agora, uma nova camada dessa narrativa vem à tona: o que, afinal, comiam os pompeianos?

O novo estudo, publicado na revista Scientific Reports, é fruto de uma colaboração entre instituições acadêmicas de prestígio da Itália e do Reino Unido. Utilizando a análise de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio, os pesquisadores conseguiram reconstruir a dieta dos habitantes de Pompeia a partir de restos orgânicos e ossos humanos e animais.

Os resultados pintam um quadro rico e diversificado da alimentação na cidade. A base da dieta era composta por grãos e leguminosas, mas não parava por aí. A análise revelou a presença de vegetais, frutas, azeite, azeitonas e vinho, um produto que, por si só, já havia sido objeto de estudos anteriores para tentar desvendar o sabor do vinho na Roma Antiga.

O consumo de carne também era notável, com um sistema de criação de gado diversificado, focado em ovelhas, cabras e porcos. Para a surpresa de muitos, os moradores também tinham acesso a uma variedade de alimentos marinhos, como peixes, moluscos e frutos do mar, mostrando a importância do litoral para a subsistência da cidade.

Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, destacou em entrevista ao jornal La Repubblica que a descoberta é uma prova de que a pesquisa não termina com a escavação. “O potencial das análises modernas sobre achados antigos é incalculável”, afirma, lembrando que um terço de Pompeia ainda dorme sob a terra. Investir no estudo de restos orgânicos, diz ele, é também investir na memória viva da cidade.

E assim, entre cinzas e métodos de ponta, Pompeia segue revelando seu cotidiano — agora, também à mesa. Uma arqueologia que não apenas nos mostra como viviam, mas nos convida a partilhar, ainda que em imaginação, o sabor de um mundo perdido.

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *