qua. out 8th, 2025

Turismo acessível cresce na Itália entre avanços e desafios e inspira o Brasil

A Itália está descobrindo o valor de um turismo verdadeiramente para todos. Segundo o Relatório sobre Turismo Acessível e Inclusivo, apresentado no World Summit on Accessible Tourism em Turim, o setor já movimenta 5,3 bilhões de euros por ano, com 8,8 milhões de chegadas e 38,4 milhões de pernoites em estruturas adaptadas.

Considerando os efeitos indiretos, o impacto sobe para 9,6 bilhões. Um mercado que, até pouco tempo atrás, era considerado de nicho, mas que hoje representa 8,2% do total do turismo italiano. Na Europa, o turismo acessível já vale 400 bilhões de euros, o equivalente a 3% do pib da União Europeia, sustentando 9 milhões de empregos.

Mas o dado que mais chama a atenção é outro: apenas 9% dos serviços turísticos europeus são realmente acessíveis. Ou seja, o potencial de crescimento ainda é enorme. Se o setor conseguisse se adaptar melhor, o número de viajantes poderia crescer até 44% ao ano, atraindo 75% mais turistas internacionais.

Para Maurizio Montagnese, presidente da Consulta para as pessoas em dificuldade, o turismo acessível “não é um segmento residual, mas a nova fronteira da hospitalidade”. De fato, mais de 80% dos hotéis italianos já investiram em acessibilidade nos últimos três anos, e 70% planejam novos investimentos até 2027. Os resultados econômicos são visíveis: o faturamento médio das empresas que apostaram na inclusão cresceu 28,8% entre 2019 e 2023, chegando a 51% nas pequenas empresas.

Ainda assim, as autoridades reconhecem que há muito trabalho pela frente.

A ministra das Deficiências, Alessandra Locatelli, lembra que o governo italiano destina 50 milhões de euros por ano a projetos regionais: desde praias e museus acessíveis até centros históricos adaptados e programas de informação para pessoas com deficiência intelectual. “Turismo é lazer, mas também é um direito de cidadania”, afirmou. Já a ministra do Turismo, Daniela Santanchè, definiu a acessibilidade como “uma grande prova de maturidade” para o setor. Segundo ela, todos os editais do ministério agora incluem critérios de inclusão, mas “ainda há um longo caminho até que tudo seja realmente acessível”.

O tema encontra eco no Brasil, onde o turismo acessível também começa a ganhar espaço.

O país possui mais de 2,5 mil empreendimentos certificados com práticas inclusivas. De pousadas adaptadas no Litoral Catarinense a agências especializadas em viagens para pessoas com deficiência. Assim como na Itália, as iniciativas partem tanto do setor público quanto de empreendedores locais, muitos deles ítalo-descendentes que veem na hospitalidade inclusiva uma oportunidade de unir tradição e inovação.

O desafio, porém, é o mesmo nos dois lados do Atlântico: transformar boas intenções em acessos reais. Rampas, sinalizações, banheiros adaptados e comunicação inclusiva ainda estão longe de serem padrão. Mas, à medida que a inclusão se torna também um valor econômico, cresce a consciência de que um turismo mais acessível é, acima de tudo, um turismo mais humano.

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