Há algo profundamente italiano — e quase melancólico — na trajetória da Trussardi. Uma marca nascida em 1911, em Bérgamo, entre o cheiro do couro e as mãos habilidosas dos luveiros, que com o tempo se transformou em um idioma de elegância, medida e inteligência burguesa.
Nos anos 1970, com a chegada de Nicola Trussardi, o pequeno ateliê torna-se uma maison moderna. O galgo — símbolo escolhido para representar velocidade e graça — corre pelos boulevards da moda internacional. Trussardi deixa de ser apenas uma marca de artigos de couro: torna-se uma ideia de estilo de vida feita de discrição e precisão artesanal, mas também de visão cultural. Nicola leva os desfiles para as praças, aproxima moda e arte e transforma o vestir em gesto cívico: Milão vira sua passarela, a cidade seu manifesto.
Depois, o destino se torna cruel: perdas familiares, mudanças de gestão, uma longa busca de equilíbrio entre herança e futuro. Mas mesmo no silêncio dos anos mais incertos, a Trussardi nunca desaparece completamente — permanece como um perfume no ar, como uma ideia de estilo que resiste às estações.
Hoje, sob a nova direção do Grupo Miroglio, a marca tenta um renascimento consciente: menos barulho, mais essência. O foco volta-se para a marroquinaria e para o vestuário “atemporal”, com o objetivo de redefinir um “luxo democrático” — elegante, acessível e fiel à sobriedade que sempre a caracterizou.
Enquanto a Fondazione Nicola Trussardi continua a promover arte contemporânea em espaços públicos, o nome da família permanece ligado a uma visão de beleza que fala de ética, cultura e sutileza.
Trussardi, hoje, é como o seu galgo: talvez já não lidere a corrida, mas continua a mover-se com graça — fiel à sua própria natureza.
