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Treviso declara guerra aos ratos com toque de classe

ByAlexia Romagna

31 de julho de 2025 , , ,

Por Treviso, anda-se com cuidado — e não apenas para não tropeçar nos paralelepípedos antigos. Há outra razão para olhar onde pisa: a cidade, famosa por ser o berço do Prosecco, vive uma invasão silenciosa e ligeiramente sofisticada. Estima-se que mais de 800 mil ratos passeiem pelos esgotos, becos e calçadas da cidade — algo como dez roedores por habitante. Mas esses não são roedores quaisquer. São ratos com paladar.

Treviso, como boa capital enogastronômica, ensinou seus invasores a comer bem. Alimentados diariamente por sobras de risoto, cascas de burrata e — principalmente — restos de uvas e vinhos, os ratos locais parecem ter desenvolvido uma inclinação natural pelos sabores da região. O que levou a uma ideia inusitada: criar iscas com sabor de Prosecco para atraí-los.

Sim, você leu certo. Em Treviso, combate-se rato com bouquet.

A arma secreta? Uva. E local, por favor.

A proposta nasceu da mente prática de Mayer Braun, especialista em controle de pragas à frente da empresa Carbonera, sediada na própria Treviso. Com experiência internacional (Londres, Nova York, Dubai), Braun percebeu que os ratos estavam rejeitando os métodos tradicionais. “Eles se adaptaram. E mais do que isso: desenvolveram preferências”, resume com um meio sorriso. A solução? Criar uma isca que simula aquilo que os roedores já consomem nas ruas: uvas do tipo Glera, as mesmas que dão origem ao Prosecco DOC.

Sob a supervisão da CEO Barbara Donadon, nasceu o que pode ser considerada a primeira armadilha gourmet para ratos: um bloco aromatizado com uvas fermentadas, que remete ao sabor suave e frutado do famoso espumante local.

A cidade não para por aí. As iscas com toque de enologia fazem parte de uma força-tarefa mais ampla, que inclui:

  • Monitoramento digital de pontos de infestação com sensores e câmeras.
  • Campanha educativa distribuída em folhetos com seis dicas para manter ratos longe — desde como fechar bem o lixo até não deixar ração do pet na varanda.
  • Oficinas para restaurantes ensinando práticas de descarte seguras.
  • Corujas ao resgate: sim, corujas. A cidade agora incentiva a nidificação da coruja-do-mato, predadora natural dos ratos, com a ajuda de um conservacionista local.

Ou seja: armadilhas com aroma, aves de rapina treinadas e uma população mobilizada. Um verdadeiro exército antirato — mas com charme veneziano.

Não só em Treviso: ratos estão em lua de mel com a Itália

De norte a sul, a praga se espalha com fúria. Em Chieri, na província de Turim, os ratos roeram cabos de fibra ótica e deixaram a cidade sem internet. Em Lodi, Caserta e Asti, as prefeituras também relatam surtos e correm para adotar medidas.

Por toda a Itália, cresce a consciência de que veneno já não basta. Ratos aprendem rápido, reproduzem mais rápido ainda (cada casal pode gerar mais de 100 filhotes por ano) e estão cada vez mais integrados ao caos urbano.

A tendência agora é pensar ecologicamente — como em Verona, onde se instalaram caixas-ninho para aves noturnas, e em Treviso, onde o combate virou até tema de campanha de cidadania urbana.

Resta saber se o plano vai funcionar. Por enquanto, os primeiros testes das iscas com sabor de Prosecco estão mostrando resultados promissores. E, como tudo na Itália, o importante é que seja feito com estilo.

No país onde até os ratos sabem distinguir um vinho DOC de uma garrafa genérica de supermercado, a guerra urbana se trava com criatividade, natureza e um certo bom gosto.

Se o plano der certo, pode ser o início de uma nova era no controle de pragas: uma onde o cardápio importa.

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