Durante décadas, voar de uma cidade europeia para outra dentro do mesmo país parecia a forma mais prática de viajar. Hoje, porém, o cenário mudou radicalmente: em vinte anos, os voos domésticos na Europa foram reduzidos à metade. O fenômeno, revela o Corriere della Sera, não é resultado de uma única causa, mas de uma combinação poderosa de fatores: da expansão da alta velocidade ferroviária à revolução digital que levou reuniões para o Zoom, passando ainda pela crescente pressão ambiental.
Basta olhar para rotas icônicas como Milão–Roma–Nápoles ou Madri–Barcelona: a chegada dos trens de alta velocidade praticamente roubou o protagonismo dos aviões. Viagens que antes exigiam um check-in, fila de segurança e um embarque agora podem ser feitas em poucas horas, direto do coração da cidade, com wi-fi a bordo e sem a tensão do aeroporto. A maioria da oferta de trem ‘bala’ é garantida pelos serviços de Trenitalia, com quem Jornal Itália já assinou uma parceria para a compra de passagem (você encontra o banner no site www.jornalitalia.com; link na bio) Esse conforto não só conquistou executivos e turistas, mas também moldou novos hábitos. Por que voar quando se pode trabalhar tranquilamente no laptop, olhando a paisagem da Toscana ou da Catalunha passar pela janela?
Outro fator decisivo foi a ascensão das companhias aéreas low cost. Ryanair, easyJet, Wizz Air, Vueling e Volotea mudaram as regras do jogo ao conectar diretamente cidades médias e pequenas com destinos internacionais. Resultado: quem antes precisava voar até o hub nacional (como Bari–Roma ou Porto–Lisboa) para depois seguir viagem, hoje vai direto para Londres, Berlim ou Paris. O voo doméstico, nesse novo mapa aéreo, perdeu grande parte da sua utilidade.
Nos últimos anos, a questão ambiental ganhou espaço. O movimento do flight shaming (a vergonha de voar) entre 2017 e 2019 pressionou empresas e governos a cortar trechos curtos, onde alternativas sustentáveis já existiam. Menos aviões no ar, menos emissões de CO₂. A pandemia foi outro divisor de águas: milhões de trabalhadores descobriram que reuniões podiam ser feitas por videoconferência, sem a necessidade de embarcar num avião para encontros de poucas horas. O home office não apenas reduziu os deslocamentos diários, mas também diminuiu a justificativa para voos de negócios rápidos.
Nem todos os países seguem a mesma tendência. O norte da Europa lidera o corte — a Holanda, por exemplo, simplesmente eliminou todos os seus voos domésticos. Alemanha, Finlândia, Irlanda e Reino Unido registraram reduções drásticas. Já o sul do continente vive outra história: Espanha, Itália, Portugal e Grécia aumentaram sua oferta, impulsionados pela geografia cheia de ilhas e pela necessidade de manter a chamada “continuidade territorial”. No meio desse mosaico, a Noruega se destaca como caso à parte: suas montanhas e longas distâncias ainda fazem do avião uma ferramenta indispensável para conectar comunidades isoladas. Segundo dados da Eurocontrol, desde o pico em 2007 desapareceram 1,5 milhão de voos domésticos no continente. A queda só não foi mais acentuada porque as companhias investiram em aeronaves maiores, aumentando a capacidade média de 115 para 154 assentos por voo. Ainda assim, o horizonte é claro: os céus europeus se tornam cada vez mais internacionais, enquanto as viagens dentro das fronteiras nacionais são absorvidas por trens de alta velocidade, plataformas digitais e uma consciência coletiva de que é possível viver (e trabalhar) com menos aviões.