Elsa Schiaparelli é uma das figuras mais revolucionárias da história da moda — uma mente visionária, capaz de transformar o vestido em obra de arte e a provocação em elegância. Nascida em Roma em 1890, Schiaparelli mudou-se para Paris no início dos anos 1920, tornando-se rapidamente uma das protagonistas da cena criativa internacional. Italiana de nascimento, mas naturalizada francesa por escolha de vida e de cultura, foi uma das primeiras estilistas a conceber a moda como uma linguagem conceitual, capaz de dialogar com a arte, a psicanálise e as vanguardas.
Nos anos 1930, Schiaparelli tornou-se célebre por suas colaborações com artistas como Salvador Dalí e Jean Cocteau, criando peças que desafiavam todas as convenções estéticas: o famoso vestido da lagosta, o chapéu em forma de sapato, os vestidos com desenhos trompe-l’œil e o uso ousado do shocking pink — tom icônico que se tornou sua assinatura. Suas coleções refletiam ironia, inteligência e liberdade — qualidades que a colocavam em contraste com a mais “clássica” Coco Chanel, com quem manteve uma famosa rivalidade.
Entre suas clientes mais fiéis estava Wallis Simpson, a Duquesa de Windsor, símbolo de elegância anticonvencional e modernidade. A duquesa admirava a visão irônica e refinada de Schiaparelli, e no filme W.E. de Madonna (2011) — dedicado à sua história de amor com Eduardo VIII — há uma célebre frase que sintetiza essa relação: “Schiaparelli me entende melhor do que qualquer outra pessoa”, sublinhando como a estilista sabia traduzir em roupas a personalidade complexa e rebelde de sua cliente.
Após décadas de silêncio, a maison Schiaparelli renasceu no século XXI, devolvendo ao centro o diálogo entre arte e alta-costura. Hoje, embora mantenha sua sede histórica na Place Vendôme, em Paris, a casa de moda é de propriedade italiana, pertencente ao grupo Tod’s, liderado por Diego Della Valle — um vínculo profundo e simbólico com as raízes de sua fundadora.
Desde 2019, a direção criativa está nas mãos de Daniel Roseberry, estilista norte-americano nascido no Texas e o primeiro americano a dirigir a maison. Suas coleções, amplamente aclamadas pelo impacto visual e pela maestria artesanal, combinam teatralidade, escultura e uma linguagem estética poderosa, capaz de unir o legado parisiense à energia global do presente.
Schiaparelli continua sendo um nome que une duas almas: o espírito surrealista da Paris de vanguarda e a força criativa tipicamente italiana. Uma visão que, ontem como hoje, celebra a moda como um ato de imaginação radical — livre de fronteiras.


