sex. ago 22nd, 2025

Quando o povo se fez República: Um canto à Itália no 2 de Junho

ByGIanna Sordili

2 de junho de 2025

Há datas que passam, como folhas soltas no vento da história. E há aquelas que cravam raízes na alma de uma nação. O 2 de junho é isso para a Itália: não apenas uma celebração oficial, mas um reencontro anual com a essência do que somos. É o dia em que, do Norte ao Sul, das grandes metrópoles às vilas penduradas nos montes, a Itália lembra a si mesma que um povo unido pode mudar seu destino.
A Festa della Repubblica não nasceu de uma festa, mas de uma escolha. E escolhas, quando feitas com o coração ferido, pesam mais. Era 1946. O país ainda coberto pela poeira da guerra, ainda machucado pelas bombas, dividido, esfomeado, exausto. A paisagem era feita de escombros e silêncios, de famílias separadas, de lágrimas que ainda não haviam secado.
Mas foi ali, naquele solo queimado pela dor, que brotou a esperança.
Pela primeira vez em sua história, os italianos — e, com justiça histórica, as italianas também — foram chamados a decidir o futuro da nação com um lápis na mão. Um gesto simples, mas profundamente revolucionário: marcar um “X” na cédula e dizer adeus à monarquia que acompanhara a ascensão do fascismo, ou mantê-la, como um eco do passado.
A maioria escolheu a República.
Escolheu dizer que a Itália não pertencia a reis, mas ao povo. Escolheu recomeçar — com as mãos sujas de poeira, mas com o olhar brilhando. Escolheu a liberdade, mesmo sem saber exatamente como seria caminhar por ela. Foi nesse gesto coletivo, nascido do cansaço e da fé, que nasceu a Repubblica Italiana.
E o que é, afinal, essa República que celebramos?
É mais do que um sistema político. É o reflexo da nossa alma plural. É a voz da Sicília e da Lombardia, é o canto napolitano e o silêncio das montanhas trentinas. É a arquitetura romana, os versos de Dante, as notas de Verdi, o riso das crianças correndo entre fontes de pedra. É o gesto carinhoso de uma avó que estende a massa, a paciência do pescador ao amanhecer, a genialidade de um cientista, o talento de um artesão.
Ser italiano é carregar no peito uma história milenar — feita de glórias e tragédias — e, mesmo assim, seguir em frente com elegância e intensidade. A República nos lembra disso: que somos filhos de um país que caiu e se levantou inúmeras vezes, que soube transformar a dor em arte, a perda em força.
E a Festa della Repubblica não é só uma homenagem ao passado. É também um olhar atento ao presente, um compromisso com o futuro. Cada bandeira tricolor que tremula nas janelas é um lembrete: a democracia é viva, precisa de cuidado, de escuta, de presença. Precisamos defendê-la com a mesma paixão com que defendemos uma receita tradicional ou uma paisagem ameaçada.
Neste 2 de junho, que a emoção não seja só pelo desfile militar, pelas cores no céu desenhadas pelas Frecce Tricolori ou pelas cerimônias solenes. Que seja, sobretudo, pela consciência de que pertencemos a algo maior: a um povo que, mesmo nas adversidades, escolheu caminhar junto. Um povo que, entre ruínas, construiu esperança.
Porque ser italiano não é apenas nascer na Itália. É amar esta terra com a intensidade de quem reconhece nela uma mãe, uma musa, um lar eterno.
E então, neste dia sagrado, deixemos que o coração bata mais forte. Que a memória dos que lutaram pela liberdade nos inspire. Que o orgulho não se esconda. Que cada um de nós diga, com a emoção nos olhos:
“Viva l’Italia! Viva la nostra Repubblica!”

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