qui. dez 11th, 2025

Quando a Sicília vira cerveja

Ninguém imaginaria que de uma garagem de Palermo pudesse nascer um dos birrificios artesanais mais emblemáticos do sul da Itália. Mas foi exatamente isso que aconteceu em Terrasini, onde dois irmãos, Vito e Giuseppe Biundo, transformaram um hobby improvável em uma fábrica líquida de Sicília. Hoje, a Bruno Ribadi não é apenas uma empresa: é um personagem, uma narrativa, uma visão teimosa que devolve à ilha uma nova voz através da cerveja.

Tudo começou como nas histórias clássicas de interior: um grupo de amigos, kits de homebrewer e a vontade de descobrir um mundo além das cervejas industriais. Mas foi um caderno antigo que mudou tudo. Em um casarão de família, os Biundo encontraram a história de um jovem excêntrico de Cinisi, o misterioso Bruno Ribadi. Ele trabalhou em um mosteiro belga, sonhou com cervejas feitas com matéria-prima siciliana e nunca conseguiu realizá-las. O sonho que fracassou virou combustível para outro nascer. Por que não fazer nós mesmos? E por que não devolver a Bruno aquilo que ele nunca pôde ser?

Da pergunta nasceu o projeto que, em 2016, virou birrificio. Os metros quadrados crescem, a produção se expande, e a Sicília entra de vez na receita: cevada 100% siciliana, grãos antigos, cítricos, especiarias, mel, figo seco. Não copiar estilos, mas contaminá-los. Cada cerveja como um pedaço líquido da ilha.

Os rótulos transformam Bruno em um viajante inquieto que atravessa continentes para aprender segredos e retorna à Cinisi com um diário cheio de ideias. Ficção? Sim. Mas uma ficção que conquista. São dez rótulos fixos e mais a sazonal de Natal. A Bianca traz tangerina tardia e grão Biancolilla; a Sicilian Pils celebra Timilia, Russello e Perciasacchi; a Tripel leva mel e figo seco; a Special Ale carrega Pantelleria e alfarroba. Entre as novidades, a Palermo Alè com pomelo rosa e a Red Etna com figo-da-índia DOP.

Cada ingrediente exige precisão: cascas na fervura, purês na fermentação. Nada pode ser desperdiçado. A empresa só trabalha com gastronomia de alta qualidade, exporta para Europa e Austrália e está construindo uma tap room de 600 m². Quer fechar 2025 com 2.700 hectolitros e ultrapassar 3.000 em 2026.

E fica a pergunta: uma cerveja pode contar um território melhor do que qualquer texto? A história dos Biundo parece responder que sim. Cada garrafa é uma página daquele caderno reencontrado, um sonho finalmente transformado em aroma, espuma e memória.

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