Com um gesto esperado, mas não isento de surpresas, o Papa Leão XIV assinou na Sala do Consistório, a sua primeira exortação apostólica, intitulada Dilexi te (“Eu te amei”). Um documento programático que, segundo fontes vaticanas, pretende marcar o horizonte do pontificado recém iniciado. O texto será apresentado oficialmente nesta quinta-feira, 9 de outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé, com a presença de alguns cardeais e especialistas leigos que colaboraram nos trabalhos preparatórios.
Mas o que é uma exortação apostólica? Trata-se de um documento oficial do Papa que não tem valor normativo como uma encíclica ou uma constituição apostólica, mas possui um forte peso pastoral. Com ela, o Pontífice encoraja, orienta e propõe caminhos concretos à comunidade eclesial. Muitas vezes nasce ao final de um Sínodo dos Bispos, outras vezes é fruto direto da reflexão do Papa. O seu estilo é acessível, destinado a motivar e estimular os fiéis a viver o Evangelho no dia a dia. Documentos célebres deste gênero foram, por exemplo, Evangelii nuntiandi de Paulo VI ou Evangelii gaudium do Papa Francisco.
No centro de Dilexi te, com cerca de 80 páginas, está a afirmação de que “o Evangelho não é um código de boas maneiras nem um conjunto de preceitos morais, mas a maior revolução da história: uma revolução de amor que transforma a vida dos povos e o coração de cada homem e de cada mulher”.
Durante a assinatura, Leão XIV reafirmou com palavras diretas o espírito do documento:
“O Evangelho é revolução. Não aquela que traz violência ou conflitos, mas a revolução silenciosa e poderosa do amor de Deus, que muda as relações, quebra as correntes da indiferença e constrói uma fraternidade autêntica.”
A exortação Dilexi te se articula em quatro capítulos principais. O primeiro recorda a centralidade da Palavra de Deus na vida dos crentes; o segundo insiste na renovação missionária da Igreja, que “não pode se fechar em si mesma”; o terceiro aborda os desafios da justiça social, da pobreza à degradação ambiental, ligando o Evangelho ao compromisso concreto com a dignidade humana; o quarto, enfim, propõe um estilo de comunidade cristã baseado na acolhida, na misericórdia e na alegria.
Chamaram particular atenção as passagens dedicadas aos jovens e aos pobres. “Não tenham medo de sujar as mãos – escreve o Pontífice – porque é ali, nas periferias, que o Evangelho mostra a sua força revolucionária.”
Observadores no Vaticano notam que Dilexi te se insere na linha de abertura traçada já nos primeiros dias do pontificado de Leão XIV, caracterizado por gestos de simplicidade, atenção aos meios de comunicação e proximidade com as pessoas comuns.
A assinatura da exortação apostólica não é apenas um ato jurídico, mas um sinal: com Dilexi te, Leão XIV parece querer imprimir ritmo ao seu ministério, colocando o Evangelho como bússola não de conservação, mas de transformação.