qua. nov 19th, 2025

O guardião da inocência: A história de Peppino Mazzullo, a voz original do Topo Gigio

Por quase meio século, sua voz habitou os lares italianos — doce, sapeca, capaz de transformar um boneco de pano em um verdadeiro membro da família. Peppino Mazzullo, ator siciliano nascido em 1926, em Santo Stefano di Briga, foi muito mais do que o dublador do Topo Gigio: foi o guardião de um timbre infantil e afetuoso que marcou uma era da televisão italiana.

Sua história começa no palco. Após os primeiros passos no teatro local e os estudos na Accademia d’Arte Cinematografica de Roma e na Accademia d’Arte Drammatica de Milão, Mazzullo ingressou nas companhias de prosa da Rai, destacando-se por uma versatilidade rara. Dramático quando necessário, cômico quando solicitado — um daqueles profissionais capazes de mudar de registro sem jamais perder credibilidade.

Foi justamente essa flexibilidade que, no início dos anos 1960, o levou ao encontro do personagem que mudaria sua carreira. Durante uma sessão de trabalho na Rai, pediram que ele experimentasse a voz de um novo boneco criado por Maria Perego. Mazzullo improvisou um timbre leve, terno, um pouco tímido, e pronunciou a frase destinada a se tornar lendária: “Ma cosa mi dici mai?”. Era 1961. Nascia o Topo Gigio como o mundo o conheceria.

A partir daí, a voz de Mazzullo tornou-se inseparável do personagem. Acompanhou décadas de programação televisiva, atravessou modas, linguagens e gerações sem perder brilho. Foi ele quem deu a Gigio sua inocência, sua ironia e sua doçura irresistível, uma marca vocal tão forte que entrou profundamente no imaginário coletivo italiano.

E não apenas na Itália. O fenômeno se espalhou internacionalmente, conquistando especialmente o Brasil, onde Topo Gigio tornou-se um ícone televisivo nas décadas de 1960 e 1970. No país, o personagem participou de programas populares, ganhou versões próprias, souvenirs, trilhas musicais e um público fiel que o acolheu com entusiasmo — tanto que, até hoje, seu bordão “Aiii, que fofinho!” permanece vivo na memória afetiva de várias gerações de brasileiros.

A parceria entre Mazzullo e seu pequeno alter ego durou até o início dos anos 2000, quando mudanças no projeto televisivo e o desejo de renovar a marca levaram à escolha de um novo dublador. Em 2006, encerrou-se oficialmente o longo capítulo entre Mazzullo e Gigio — um fim também influenciado pela idade avançada do ator, já próximo da aposentadoria e desejoso de retornar à sua terra natal.

Mas seu legado permanece indelével. Sem a voz de Peppino Mazzullo, o Topo Gigio não seria o mesmo: não teria aquele calor, aquela espontaneidade, aquela dimensão “humana” que o transformou em um fenômeno nacional e internacional. É a história de como uma voz pode mudar o destino de um personagem e, de certa forma, também o de um país. Uma história que merece ser lembrada, porque celebra a magia simples e poderosa do entretenimento.

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