Tanto barulho por nada. Apesar da paixão genuína mostrada pelos cidadãos de Sorrento em defender um pedaço essencial do patrimônio artístico e religioso local, o belíssimo Mosteiro de Santa Maria delle Grazie nunca esteve realmente ameaçado de virar hotel ou casa de férias.
A polêmica na cidade – pérola da península no golfo de Nápoles, que inclui também a costa de Amalfi – nasceu com a saída da última freira dominicana que vivia no convento e a consequente notícia de fechamento da estrutura ao culto. Antes mesmo de qualquer anúncio sobre o futuro, em poucos dias os moradores reagiram em defesa da memória e da tutela do patrimônio. Mais de 800 assinaturas foram recolhidas e uma carta-apelo foi enviada à comissária prefetícia Rosalba Scialla. O pedido era claro: definir de forma transparente a destinação do edifício e afastar qualquer hipótese de conversão turística.
O temor fazia sentido para muitos: o complexo do décimo quinto século ocupa um quarteirão inteiro no coração de Sorrento e guarda três claustros e uma rara área verde. Declarado bem cultural de interesse público, o espaço é vigiado pelo Ministério da Cultura para garantir a compatibilidade de eventuais usos. Além disso, sua história carrega um peso simbólico: a fundadora, Berardina Donnorso, raptada pelos turcos e depois ter voltado à cidade, cumpriu seu voto doando o terreno e fazendo erguer o mosteiro, com a missão de acolher jovens pobres e manter viva a função religiosa.
Não surpreende, portanto, que os moradores tenham se mobilizado com tanta força. A petição “Defendemos o Mosteiro das Graças de Sorrento!” pedia que a administração preservasse a identidade espiritual, cultural e social do espaço.
Mas a resposta oficial trouxe alívio imediato: nenhuma hipótese de hotel jamais esteve sobre a mesa. O presidente do Ente Conservatório, Franco Russo, foi categórico: “Um hotel 4 estrelas? Hipótese sem qualquer fundamento”. Em nota, o órgão gestor esclareceu que a atual administração – voluntária e não remunerada – nunca considerou projetos de reconversão turística, descartando-os também para o futuro.
Com a polêmica encerrada, resta uma certeza: o mosteiro, com seus séculos de história e sua beleza arquitetônica, não perderá sua alma para a lógica do turismo de massa. O caso reforçou, no entanto, a paixão de Sorrento pelo seu patrimônio, prova de que, mesmo quando o risco não existe, a memória coletiva continua vigilante.