Nápoles celebra seu primeiro dia mundial do ragù: o ritual dos domingo de sabor

O ragù napolitano é muito mais do que um simples molho de carne. É uma cerimônia doméstica, um ritual que começa cedo no domingo e envolve paciência, perfume e afeto. Diferente do “ragù á bolonhesa”, que é mais cremoso e feito com carne moída, o ragù napolitano é preparado com grandes pedaços de carne bovina ou suína – geralmente músculo, costela ou “tracchie” (costelinhas) – cozidos lentamente em um molho espesso de tomate, vinho tinto, cebola e azeite.
O segredo está no tempo: cozinha-se por 6 a 8 horas, em fogo muito baixo, até que o molho adquira uma cor profunda e o sabor da carne se espalhe por toda a casa. Em Nápoles, dizem que o ragù “deve pippiare”, verbo da lingua napolitana que descreve o som suave das bolhas enquanto o molho cozinha lentamente. O som que anuncia o domingo em cada bairro tradicional da cidade.
O ragù chegou a Nápoles no século XVIII, inspirado nos molhos franceses de carne cozida (“ragoût”). Mas os napolitanos o transformaram em algo completamente diferente: um prato de alma, popular e familiar, que virou sinônimo de celebração. No século XIX, o ragù já era citado na literatura e na música napolitana e aparece até nas canções de Eduardo De Filippo e Totò, que o chamavam de “o verdadeiro perfume da casa napolitana”.
Tradicionalmente, o ragù é servido com maccheroni, ziti ou paccheri, e depois a carne cozida é servida separadamente como segundo prato. É o almoço de domingo por excelência: lento, generoso e cheio de histórias.
A iniciativa da Região da Campânia pretende valorizar esta herança culinária, que faz parte da identidade napolitana tanto quanto o Vesúvio e a canção. Ao longo do fim de semana, restaurantes e trattorias em toda a Campânia – especialmente em Nápoles – oferecem menus especiais dedicados ao ragù, oficinas de preparo tradicional e encontros culturais sobre a história do prato.
Mais do que uma simples homenagem gastronômica, a Giornata del Ragù Napoletano é um convite a redescobrir o tempo, o afeto e a paciência. Ingredientes essenciais de uma receita que há séculos une famílias em volta da mesa.
