O ano de 2025 marca para a moda italiana um momento de hibridização estrutural entre herança e inovação disruptiva, evidenciado por uma verdadeira “dança das cadeiras” nos cargos criativos e gerenciais das maisons.
- Entre as mudanças mais relevantes, a Versace anuncia a saída de Donatella Versace como diretora criativa e a entrada de Dario Vitale a partir de abril de 2025.
- A Bottega Veneta escolhe Louise Trotter como diretora criativa, enquanto a Jil Sander entrega o comando a Simone Bellotti.
- Paralelamente, nos relatórios sobre mudanças de gestão, também se registram novidades em cargos não necessariamente criativos: a Valentino nomeia Riccardo Bellini como novo CEO.
Essa dinâmica revela que as maisons italianas não estão atentas apenas à estética, mas ao sistema de liderança criativa e empresarial como alavanca competitiva. O setor se apresenta como um ecossistema em permanente reajuste.
Implicações principais
- Renovação estética e geracional: novos talentos com trajetórias diversas, muitas vezes internacionais ou fora da formação tradicional da moda italiana, indicam abertura a visões mais globais.
- Equilíbrio entre herança e inovação: preservar o DNA (Made in Italy, artesanato, códigos estéticos) adaptando-o a linguagens contemporâneas e a um público mais jovem.
- Liderança integrada: o diretor criativo atua cada vez mais em parceria estratégica com o CEO, articulando moda, cultura e negócios.
- Pressão macroeconômica: em um contexto de turbulências no varejo, custos elevados e desafios no mercado externo, os conselhos apostam no “novo olhar” como motor de diferenciação.
Chuva de dados dos primeiros nove meses: luzes e sombras
O setor da moda italiana apresenta um quadro misto nos primeiros nove meses do ano: ao lado de nichos em crescimento, aparecem áreas de forte criticidade.
Pontos fortes
- O Grupo Prada fecha os primeiros nove meses de 2025 com receita de € 4,07 bilhões, com alta de +9% sobre o ano anterior, impulsionada pela excelente performance da Miu Miu (+41%).
- Há sinais positivos de expansão geográfica: no trimestre analisado, Américas +15%, Europa +6% e Ásia-Pacífico +10%, com foco na recuperação da China.
Áreas de atenção
- O setor calçadista italiano registra nos primeiros nove meses de 2024 uma queda de exportações de −9,2% em relação ao mesmo período do ano anterior; produção e faturamento penalizados.
- Um panorama mais amplo do segmento moda-vestuário, têxtil e couro aponta −4,3% de faturamento no primeiro semestre de 2025, com retração generalizada.
Análise profissional
- O desempenho de Prada (+9%) e Miu Miu (+41%) evidencia a força da brand equity e do posicionamento no luxo como proteção em tempos instáveis.
- Já áreas mais tradicionais (como calçados e têxteis básicos) sofrem com custo elevado, menor demanda global e menor “peso de marca” no cenário premium.
- O contexto de exportação e varejo permanece crítico: a performance na Europa e nos fluxos turísticos é delicada, e o mix de produto + preço médio torna-se decisivo.
- Nesse sentido, o movimento de renovação criativa e gerencial não é apenas estético, mas uma estratégia para reacender desejo e atenção midiática em um mercado com crescimento limitado.
O panorama da moda italiana em 2025 se move em dois planos complementares: de um lado, um forte processo de renovação no comando criativo e na gestão estratégica das marcas; de outro, um contexto econômico que exige cautela — com desempenhos brilhantes de alguns grupos, mas retrações em segmentos mais tradicionais.
Para quem trabalha com comunicação e marketing de moda, este é o momento de articular herança e contemporaneidade, mostrando que a transformação criativa não é apenas um novo diretor criativo, mas um valor estratégico empresarial capaz de responder às novas dinâmicas do mercado.

