sex. set 5th, 2025

Milão, a nova queridinha dos milionários globais: flat tax, “lei Ronaldo” e o boom de capital estrangeiro.

ByLuiz Antônio Cafiero

1 de setembro de 2025 ,

Milão já foi vista como uma cidade essencialmente local, com raízes profundas na sua tradição industrial e no ritmo acelerado do trabalho lombardo. Mas nos últimos anos algo mudou — e não é apenas a silhueta vertical que redesenhou o skyline da cidade. O Financial Times acaba de confirmar aquilo que muitos já percebiam: a capital econômica da Itália virou um ímã para bilionários e fundos internacionais, atraídos por um mix explosivo de oportunidades, qualidade de vida e, sobretudo, vantagens fiscais.

O grande divisor de águas foi a chamada “norma CR7”, criada no governo Renzi e batizada assim porque abriu caminho para a chegada de Cristiano Ronaldo à Juventus em 2018. O mecanismo é simples, e tentador: quem transfere a residência para a Itália paga uma taxa fixa (flat tax) sobre rendimentos obtidos fora do país, independentemente do valor. Hoje, essa cifra é de 200 mil euros anuais.

Para quem possui contas milionárias em bancos estrangeiros, dividendos, participações ou sucessões no exterior, trata-se de um verdadeiro passe livre. Resultado? Milão deixou de ser apenas o coração da moda e do design e passou a ser também o novo playground da elite financeira global.

O fenômeno é visível até nas estatísticas oficiais. Em 2023, 1.627 americanos mudaram-se para Milão — o maior número desde 2003 — somando-se a expatriados que antes chamavam de casa paraísos como Bahamas, Barbados ou Panamá.
Esse fluxo trouxe um impacto direto no mercado imobiliário de luxo, que já vivia um boom. No Quadrilátero da Moda, o metro quadrado chega a 40 mil euros, nada menos que 18 vezes a média nacional. Os novos moradores transformaram bairros inteiros, criando uma Milão cada vez mais internacional, sofisticada e… cara.

Não são apenas milionários individuais que desembarcaram na cidade. Gigantes do setor financeiro como CVC, Preservation Capital e Ares já abriram escritórios locais, enquanto bancos como o Goldman Sachs ampliaram sua presença.

E há também o charme irresistível do lifestyle milanês: em duas horas, você está em Portofino; em 45 minutos, almoça na varanda da Villa d’Este no Lago de Como; em três horas, esquia em St. Moritz. A velha “gita fuori porta” dos italianos virou um luxo cosmopolita à disposição de quem escolhe Milão como base.
De uma “cidade local” para um hub global de investimentos, Milão vive uma transformação que mistura glamour e especulação, arquitetura futurista e velhas histórias de bairro.


O fato é que, com ou sem Ronaldo, a cidade deixou de ser apenas a capital da moda e está se consolidando como o endereço preferido dos super-ricos, e talvez o maior case europeu de como a política fiscal pode redesenhar a alma de uma metrópole.

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