No início de julho de 2025 (por volta do dia 10), quatro proprietários rurais instalaram um tornello (catraca) ao longo de um trecho privado da trilha que leva às famosas rochas de Odle, no monte Seceda, em Val Gardena.
A justificativa: chamar atenção para o lixo, a destruição dos prados e o excesso de turistas buscando selfies, sem qualquer respeito às pastagens. O valor cobrado era 5 euros por pessoa, com isenção para moradores da região e crianças.
O protesto chamou atenção na mídia nacional e internacional — mas a catraca permaneceu ativa apenas algumas horas, sendo removida pouco depois, principalmente por não possuir qualquer autorização legal da província ou do parque natural .
Nesta segunda-feira (28), a trégua acabou. A catraca foi reinstalada, agora com controle manual, cartazes e cobrança efetiva dos 5 euros por pessoa (sempre com isenção para residentes do Tirol do Sul e crianças), como relata o jornal Alto Adige . Georg Rabanser, um dos quatro proprietários, declarou: “Nosso foi um grito de socorro… Esperávamos algo da província, mas nada concreto chegou. Então seguimos em frente”.
Reações institucionais: entre proteção ambiental e legalidade contestada
- A província de Bolzano, por meio do Ufficio Natura, informou que não otorgou qualquer autorização para a instalação. Assim, a iniciativa foi considerada ilegal e deveria ter sido interrompida na primeira vez.
- A APT (Conselho de Turismo) de Santa Cristina contratou quatro guardas florestais para patrulhar a região, orientar os visitantes a permanecer nas trilhas, evitar o uso de drones e minimizar o impacto ambiental. Segundo o presidente Lukas Demetz, embora o problema do lixo tenha diminuído bastante, a reativação da catraca ainda causa decepção, especialmente por não haver base legal clara para a cobrança.
- O Club Alpino Italiano – sezione Alto Adige, por meio de seu presidente Carlo Alberto Zanella, posicionou-se firmemente contra qualquer cobrança: “Comunico oficialmente que o tornello está em funcionamento e cobrando. Portanto, toda a história de provocação é uma mentira completa.” A entidade reafirmou que o acesso à montanha deve ser livre para todos.
Além disso, as imagens e vídeos de multidões aguardando a teleférica — inclusive sob o sol escaldante — reforçam a pressão sobre o local e alimentam críticas ao modelo turístico que transforma paisagens alpinas em destinos de massa.
A grande questão segue sendo a base legal da cobrança: proprietários afirmam não ter alternativas diante do impacto sobre seus terrenos, enquanto autoridades confirmam que nenhuma autorização foi concedida. A província aguarda documentos formais antes de definir medidas de longo prazo, e a eventual necessidade de indenização aos proprietários também é debatida — sobretudo porque abriria brecha para outros pedágios em áreas privadas .
A guerra da catraca em Seceda — da instalação simbólica inicial até a cobrança efetiva após semanas — reflete um conflito paradigmático: como garantir acesso democrático à natureza, com respeito ao direito de propriedade, e ainda controlar os impactos ambientais e sociais do turismo de massa.
A partir de agora, três elementos serão fundamentais:
- A decisão legal da província sobre os pedágios;
- A eficácia das ações da APT e guardas florestais na proteção do ecossistema;
- Um modelo turístico sustentável que preserve paisagens sem privatizar ou mercantilizar panoramas de valor público.