Lá vamos nós de novo. Toda vez que a Europa treme, a Itália volta a se perguntar sobre um dos temas mais divisivos de sua história recente: o serviço militar obrigatório. Mas o que significa, em 2025, falar daquele velho termo que atravessou gerações, a “Naia”? Assim se chamava o período de serviço militar, muitas vezes vivido como um rito de passagem às vezes com orgulho, outras com peso e resistência. Hoje, a palavra reaparece quase como um fantasma: evocada, discutida, nostalgicamente lembrada, mas desconhecida para quem nasceu depois da suspensão do serviço.
E afinal, o que representa hoje a Naia? Uma tradição perdida? Um símbolo de disciplina? Ou apenas um pedaço de memória que tentamos ressuscitar para responder às inquietações de um mundo que já não parece tão seguro?
O debate voltou a ganhar força após o ministro da Defesa, Guido Crosetto, mencionar a possibilidade de reintroduzir o serviço militar obrigatório, em linha com as discussões que ocorrem na França e na Alemanha. Mas basta percorrer os documentos do Parlamento para perceber que o terreno já estava aquecido: propostas que avançam, param, retornam, como se a política italiana oscilasse entre o desejo de proteção e o medo de retroceder no tempo.
A proposta mais incisiva vem do deputado leghista Eugenio Zoffili: seis meses de serviço obrigatório, militar ou civil, para todos os jovens entre 18 e 26 anos. Uma espécie de serviço “universal” realizado na própria região de residência, salvo pedido contrário. Seria um reforço do vínculo com o território? Ou a tentativa de fazer da defesa um exercício enraizado no cotidiano local?
Matteo Salvini descreveu a proposta como “uma grande forma de educação cívica”, quase uma nova escola destinada a corrigir aquilo que a sociedade já não consegue ensinar. Mas será mesmo que as Forças Armadas podem assumir esse papel pedagógico? É essa sua função?
O ministro Crosetto respondeu com firmeza: a educação dos jovens não pode ser delegada ao uniforme. E até Ignazio La Russa que sempre exaltou a disciplina militar mostrou-se contrário à obrigatoriedade. Paradoxos italianos: às vezes, quem mais conhece o valor da vida militar é justamente quem resiste ao seu retorno forçado.
Do Friuli-Venezia Giulia chega ao Senado uma proposta semelhante: reintroduzir um serviço civil ou militar obrigatório. Um sinal de que a discussão não pertence apenas a um partido, mas a um clima cultural que reflete um pedido crescente por segurança e identidade. De que temos medo? Por que sentimos a necessidade de recuperar modelos do passado justamente quando o mundo exige flexibilidade, tecnologia e capacidade de adaptação?
Na Câmara, Edmondo Cirielli apresenta outro modelo: um serviço militar voluntário para mobilização nacional. Nada de obrigação, mas uma escolha. Uma defesa da Pátria baseada na vontade individual, não em uma convocação imposta.
E há ainda a proposta de Nino Minardo: a criação de uma reserva militar. Um corpo paralelo, capaz de ser acionado em caso de conflito ou grandes crises. Um modelo inspirado em Israel, que por isso mesmo despertou fortes debates. Uma reserva que responde quase diretamente ao Palácio Chigi. Poder demais? Agilidade demais para acionar a força militar? Onde termina a segurança e começa o risco para o equilíbrio democrático?
A pergunta que fica: que Itália queremos?
Entre propostas, nostalgias, medos e ambições, permanece uma pergunta essencial: a Itália quer realmente o retorno do serviço militar obrigatório? Ou estamos apenas reagindo emocionalmente a um cenário internacional instável? E os jovens? Estão dispostos a pausar estudos, trabalho e projetos por seis meses para cumprir um serviço imposto pelo Estado?
Depois de vinte anos sem serviço obrigatório, o país parece viver uma contradição profunda: sente falta do que escolheu abandonar, pede de volta algo que não sabe se realmente deseja, discute sem decidir. O Parlamento debate, os dossiês se acumulam, a opinião pública oscila.
E assim a verdadeira linha de fronteira aparece em outro lugar: não entre obrigatório e voluntário, não entre civil e militar, mas entre quem acredita que o serviço pode “corrigir” os jovens e quem pensa que maturidade não se ensina com um fuzil na mão ou um uniforme nos ombros.
Talvez, antes de falarmos de exércitos, devêssemos perguntar que tipo de sociedade queremos construir. E se o Estado deve realmente voltar a ser o mestre dos nossos jovens de dezoito anos ou se isso não passa de uma ilusão de um país que procura no passado a segurança que o presente não consegue oferecer.

