qua. dez 10th, 2025

Itália e Fiocruz lado a lado: a aliança que promete salvar gerações de recém-nascidos

PorFrancesco Sibilla

10 de dezembro de 2025 ,

Existe um instante raro em que a inovação deixa de ser promessa e se torna referência. Foi exatamente isso que aconteceu com a Puglia, a região italiana que o Brasil com seus 214 milhões de habitantes escolheu oficialmente como parceira para construir seu futuro programa de triagem genômica neonatal.
Por quê? Porque Genoma Puglia não é apenas tecnologia. É visão. É coragem política. É ciência que chega antes da doença.

O convite veio por meio da instituição mais respeitada da saúde pública latino-americana: a Fundação Oswaldo Cruz. A Fiocruz não distribui elogios. Ela os pesa. E, desta vez, escreveu que o programa italiano é “um ponto de referência mundial”, um verdadeiro benchmark internacional na implementação da genômica em larga escala.
Como ignorar um reconhecimento assim? Como não perceber que, enquanto a Itália às vezes hesita, o mundo já entendeu o impacto dessa revolução?

Fabiano Amati, o assessor regional que acompanhou todo o processo, admite: nada disso era previsível. Uma simples lei regional tornou-se o primeiro programa de screening genômico neonatal estrutural da Europa e, sobretudo, uma máquina silenciosa de salvar vidas.
Mas essa virada só foi possível porque ciência e política, raramente alinhadas, caminharam juntas.

No coração do projeto está o Laboratório de Genética Médica do Hospital Di Venere, liderado por Mattia Gentile e sua equipe esponsáveis por transformar uma ideia ousada em rotina hospitalar. Com um pequeno volume de sangue colhido nos primeiros dias de vida, o sequenciamento analisa 407 genes, identifica mais de 480 doenças tratáveis e reescreve histórias que, sem intervenção precoce, terminariam cedo demais.

O Brasil viu isso. E quis aprender.

A Fiocruz propôs uma parceria direta entre Genoma Puglia e dois programas nacionais o Genomas SUS e o NAPI-SPP do Paraná com o objetivo de levar o sequenciamento genômico à beira do leito, integrado ao cuidado de neonatos e pacientes críticos. E fez um pedido que muda a escala da conversa: nada de pilotos. Nada de testes isolados.
O Brasil quer um serviço universal, permanente, igualitário.
Como na Puglia.

O significado é imenso: um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo decide que uma região italiana é o modelo a seguir. Isso coloca a Itália numa posição rara a de protagonista num debate que definirá o futuro da medicina preventiva global.

A Fiocruz sabe o que está fazendo. É a instituição que combateu a peste, liderou campanhas históricas, isolou o HIV na América Latina, decodificou o genoma do BCG. Para uma organização com essa trajetória, escolher a Puglia é um gesto estratégico, não diplomático.

E enquanto isso, a Itália ainda se divide. Alguns perguntam se não estamos indo “rápido demais”. Mas como pode ser “rápido demais” salvar um recém-nascido?

Hoje, com 16 mil bebês já analisados e dezenas de diagnósticos precoces que mudaram destinos, Genoma Puglia prova diariamente que ciência e humanidade não são forças opostas são a mesma coisa.
Quando prevenimos antes de tratar, quando salvamos antes de sofrer, estamos exatamente onde a medicina deve estar.

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