Consertar um carro, hoje, na Itália, já não é mais um gesto natural. Não é mais um reflexo automático. Tornou-se uma decisão, uma avaliação cuidadosa, muitas vezes adiada. Nos últimos dez anos, os custos de manutenção e reparo cresceram 33%, um número que vai além da inflação e revela uma mudança estrutural no país.
A Itália circula com um dos parques automotivos mais antigos da Europa, com idade média próxima de treze anos. Carros mais velhos significam mais desgaste, mais falhas e mais visitas à oficina. Mas também significam mais hesitação diante de um orçamento. Enquanto os veículos envelhecem, o poder de compra não acompanha, e trocar de carro se torna um objetivo distante para muitas famílias.
Os gastos com manutenção seguem em alta, com aceleração clara entre 2023 e 2024. Peças mais caras, mão de obra mais cara: a hora média de oficina passou de cerca de 55 para mais de 71 euros em menos de uma década. Um fenômeno europeu, mas que pesa mais na Itália, onde a renda estagnada encontra um parque automotivo cada vez mais exigente.
O comportamento dos motoristas muda. Reparos urgentes continuam inevitáveis, mas tudo o que pode ser adiado costuma ser empurrado para depois. Um barulho ignorado, uma luz no painel que se apaga sozinha, uma revisão postergada. Não é descuido, é adaptação. Mas é um jogo arriscado, porque o problema pequeno de hoje pode virar a conta grande de amanhã.
Nesse cenário, alternativas ganham força. Peças remanufaturadas deixam de ser exceção e se tornam solução real. O custo pode ser até 80% menor do que o de uma peça nova, mas não é só economia. Para muitos carros antigos, certas peças simplesmente não são mais produzidas. A regeneração passa a ser o único caminho possível.
Há ainda um fator que vai além do bolso. Recondicionar reduz desperdícios, poupa recursos naturais e prolonga a vida útil do que ainda funciona. Em um país onde a sustentabilidade muitas vezes fica no discurso, a economia circular no setor automotivo é prática, concreta, cotidiana. Funciona porque é pragmática.
No fim, a pergunta não é apenas quanto custa consertar um carro na Itália, mas o que esse custo revela. Revela um país que dirige carros cada vez mais velhos, que demora a substituí-los e aprende a se adaptar. Consertar deixou de ser automático. Tornou-se uma escolha. E justamente por isso será cada vez mais central no futuro.

