Itália busca profissionais qualificados: oportunidades para ítalo-brasileiros. Saiba tudo o que precisa

A Itália vive um dos períodos mais contraditórios do seu mercado de trabalho: de um lado empresas com milhares de vagas abertas, de outro a crescente dificuldade em encontrar profissionais qualificados. Segundo o Sistema Informativo Excelsior, levantamento realizado por Unioncamere e pelo Ministério do Trabalho e das Políticas Sociais da Itália, 46,8% das vagas abertas em outubro de 2025 permanecem sem candidatos.

Em números concretos, isso significa mais de 243 mil postos de trabalho que as empresas italianas não conseguem preencher seja pela falta de candidatos (29,7%) ou por qualificação inadequada (13,3%). A escassez atinge setores estratégicos como metalurgia (67,5%), construção civil (60,8%), móveis e madeira (56,9%), mecatrônica (55,5%) e têxtil e vestuário (55,3%). Entre as profissões mais procuradas estão engenheiros (58,8%), técnicos em TI e telecomunicações (59,5%), profissionais de saúde e estética (acima de 60%) e operários qualificados como soldadores, montadores e mecânicos (em alguns casos, com índices de escassez superiores a 70%).



A escassez de profissionais qualificados na Itália abre uma janela histórica para os descendentes de italianos no Brasil. Com o país europeu pressionado pela falta de mão de obra técnica e envelhecimento populacional, os ítalo-brasileiros aparecem como candidatos ideais: formados, bilíngues e com facilidade de adaptação cultural. Para quem já possui o passaporte italiano, 2025 é o ano de agir, formalizar residência, atualizar documentos e explorar os canais oficiais de emprego. Mais do que uma oportunidade profissional, trata-se de um reencontro com as próprias raízes, um retorno simbólico e concreto à terra dos antepassados.

O boletim aponta ainda que há mais de 155 mil vagas para jovens com menos de 30 anos, especialmente nos setores de tecnologia da informação, turismo, comércio, mídia e serviços empresariais, uma abertura inédita para quem busca recomeçar na Europa.
Brasileiros sem cidadania: o caminho ainda é restrito

Para os brasileiros que não possuem cidadania italiana, o acesso ao mercado de trabalho na Itália ainda depende do Decreto Flussi, o sistema anual de cotas que regula a entrada de trabalhadores estrangeiros no país. O longo e complexo procedimento começa com uma empresa italiana que deve oferecer uma vaga e solicitar o autorização de trabalho (nulla osta) junto ao Ministério do Interior. Após a eventual aprovação, o candidato solicita o visto de trabalho no Consulado Italiano de sua jurisdição no Brasil. Já em território italiano, deve solicitar o permesso di soggiorno per motivi di lavoro na Questura local.

Os setores que mais contratam estrangeiros via Decreto Flussi são agricultura, turismo, transporte, serviços domésticos e construção civil. O sistema é todavia altamente competitivo e com número limitado de vagas, o que faz com que a maioria dos brasileiros interessados dependa de convites específicos de empresas ou programas de intercâmbio profissional.

Ítalo-brasileiros com cidadania italiana: portas abertas, mas é preciso preparo

Para os ítalo-brasileiros, o cenário é radicalmente diferente. Quem possui cidadania italiana e passaporte europeu pode viver, estudar e trabalhar na Itália sem qualquer necessidade de visto ou autorização especial. São cidadãos plenos da União Europeia, com os mesmos direitos de um italiano nascido na Itália.

Mas, apesar da facilidade legal, há etapas práticas essenciais para regularizar a estadia e ingressar no mercado de trabalho formal. A primeira é o registro de residência (iscrizione anagrafica). Ao chegar à Itália, o primeiro passo é registrar-se no comune onde vai morar. É preciso apresentar: passaporte italiano; contrato de aluguel ou declaração de hospitalidade (dichiarazione di ospitalità) e codice fiscale (o CPF italiano). Esse registro é indispensável para ter acesso a todos os serviços públicos.

Emitido pela Agenzia delle Entrate, o codice fiscale é o documento de identificação tributária exigido para qualquer atividade: abrir conta bancária, assinar contrato de trabalho ou alugar imóvel. O cidadão deve se inscrever também na ASL (Azienda Sanitaria Locale) da sua região para ter direito a atendimento médico público.

Quanto ao trabalho é necessária a inscrição nos centros de emprego (Centri per l’Impiego) Esses centros públicos conectam trabalhadores a vagas abertas no território. O registro pode ser feito presencialmente ou pelo portal nacional de empregos no Cliclavoro (cliclavoro.gov.it) Portal do Ministério do Trabalho. Além disso, ítalo-brasileiros podem se candidatar às vagas do sistema Excelsior (excelsior.unioncamere.net), que concentra ofertas de empresas registradas nas câmaras de comércio regionais no sistema.

Programas e iniciativas que facilitam o retorno às origens

Nos últimos anos, o governo italiano tem se empenhado em reconectar descendentes de italianos espalhados pelo mundo – e especialmente na América Latina – com suas regiões de origem. Criado em 2023 pelo governo italiano, o Italea (italea.com) é uma plataforma oficial que promove o retorno de descendentes italianos, oferecendo informações sobre cidadania, oportunidades de estudo, turismo de raízes e, sobretudo, reintegração social e profissional.



Além disso, várias regiões italianas possuem leis específicas que incentivam a repatriação de descendentes com apoio financeiro, cursos de italiano e orientação para o mercado de trabalho. O Friuli Venezia Giulia apresenta o Progetto Percorsi (offertelavoro.regione.fvg.it) que oferece bolsas e suporte a descendentes de emigrantes friulanos.
O Trentino Alto Adige, através da associação Trentini nel Mondo (trentininelmondo.it) conecta descendentes a oportunidades locais. Já no Vêneto funciona o programas de turismo das raízes e intercâmbio profissional em parceria com as Camere di Commercio locali.

No Brasil, há uma rede sólida de Comites (Comitati degli Italiani all’Estero) e Circoli Italiani Regionais que auxiliam descendentes no processo de reconhecimento da cidadania e, mais recentemente, na transição para o mercado de trabalho italiano. As Câmaras de Comércio Ítalo-Brasileiras, como as de São Paulo (www.italcam.com.br) e Rio de Janeiro (www.camaraitaliana.com.br), mantêm projetos de intermediação de emprego e capacitação profissional, além de eventos de networking com empresas italianas.